natalia

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Eartha Kitt, também quero ser má!


Ainda não tive a oportunidade (mentira) de fazer minha lista de metas para 2009 (mentira, mentira, mentira). Não tive saco. Ou culhões.
Isso lembra uma vez que dormi fora de casa e minha mãe disse que eu estava com cheiro de Ypióca. Não ouvi direito o que ela falou e juro por deus que foram os cinco segundos mais apavorantes da minha vida.
Como é que ela sabe? As pessoas sabem? É por isso que todo mundo ficava me encarando na rua! Eu estava ali desfilando enquanto todo mundo sorria e pensava: "eu sei o que você tomou na noite passada". Ok, eu confesso, eu confesso! Culpada!
"Você não devia beber tanta cachaça", minha mãe completou. "Isso vai te dar ressaca".
Sorri com o alívio de uma mocinha menstruada após oito dias de atraso. Ypióca, ela disse Ypióca. Mas, por via das dúvidas, fui direto pro chuveiro.
*
Mesmo sem ter uma lista, eu tinha um propósito muito nobre para 2009. Queria ser uma pessoa melhor. Queria me irritar menos com bobagens, queria ser mais paciente, mais compreensiva, mais madura.
Mas quer saber? Ser a "pessoa maior" não é investimento seguro. Não espera vir em dobro não! Mais provável vir pela direita e quebrar a sua cara, como um soco cruzado que leva ao nocaute.
Quer dizer, vejam o JC. Cara maneiro, cara bacana. Fazia vinho, andava sobre a água, dava a outra face. E o que ele ganhou com isso? Porra nenhuma. Só sifu.
Ser legal nunca ajudou ninguém. Não ajudou Jesus e certamente não vai ajudar você.
É por isso que em 2009 eu vou ser escrota pra caralho. De todas as metas estúpidas que já decidi atingir, essa é a única que eu me comprometo a honrar, incondicionalmente.
"I wanna be evil, little evil me
Just as mean and evil as I can be"

sábado, 24 de janeiro de 2009

Dos joguinhos afetivos


"TINDOLELÊ": uma tragicomédia em três atos e um epílogo.

ATO I - Atração, Flerte e Ritmo de Festa

Todo mundo tá feliz?
Tá feliz!
Todo mundo quer dançar?
Quer dançar!
Todo mundo pede bis
Todo mundo pede bis
Quando para de tocar
Mais um! Mais um!

Todo mundo tá feliz?
Tá feliz!
Todo mundo quer dançar?
Quer dançar!
Todo mundo pede bis
Todo mundo pede bis
Quando para de cantar

ATO II - Let's Get Physical!

Batendo palma
E dando um grito
Hei!
Levanta a mão passando energia

Batendo palma
E dando um grito
Hei!
Levanta a mão passando energia

ATO III - De Peixinho Vai Pra Trás (E Não Liga Nunca Mais)

Eu quero ver
Levanta a mão
Vem balançando, balançando a multidão
Eu quero ver
Tindolelê
Nheco Nheco
Xique Xique
Balancê

Eu quero, eu quero, eu quero ver
Levanta a mão
Vem balançando, balançando a multidão
Eu quero ver
Tindolelê
Nheco nheco
Xique xique
Balancê

EPÍLOGO - Beijinho, Beijinho, Tchau, Tchau (a.k.a. Axé Bahia 2009)

Iê, iê, iê, iê,
Tindolelê
Nheco nheco
Xique, xique
Balancê
Iê, iê, iê, iê,
Tindolelê
Nheco nheco
Xique, xique
Balancê

Repete tudo 2x (!!!!)

"Quem vai sobrar, menino ou meninaaa?"

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Invasão de Pensamento


Sempre estimei os momentos quietos e solitários no interior dos transportes coletivos. Sei que disse quietos e solitários - e mantenho a afirmação. Mesmo na hora do rush. Na hora do rush e com muita, muita chuva. Meus pensamentos me distraem, invariavelmente.
Subo num ônibus qualquer, encharcada - porque você sempre sabe onde está seu guarda-chuva quando chove. Ele está em casa, feliz, sequinho, rindo da sua cara. "Não fica triste", ele diria, "A gente se vê outro dia. É só me pôr na bolsa e me carregar por aí. E nesse dia vai fazer um solzão do caralho, sua otária, estúpida, cretina" (RISADAS MAQUIAVÉLICAS, RISADAS MAQUIAVÉLICAS).
É curioso o que acontece com a distribuição demográfica de um ônibus em dias de chuva. Subitamente, há uma forte demanda pelo assento do corredor. A princípio você pensa, "nossa, quantos lugares vazios", até que se dá conta de que todas as partes do banco próximas à janela se encontram no mesmo estado patético que você. Molhadinhas, molhadinhas.
Tento escolher aquele que parece menos crítico, o que formou a menor pocinha d'água. Pego uma folha de papel ofício na bolsa e trato de secar o banco. Uma operação delicada, que requer um pouco de atenção para que se tire o máximo de proveito da folha. Depois eu sento. Mais três segundos e a senhorinha ao meu lado se levanta e puxa a cordinha. Puta que pariu. Custava ter avisado que tava de saída? Ficou ali assistindo minha odisséia, impassível. Velha filha da puta.
Mas, como o show não pode parar, a velha sádica sai de cena e dá lugar à crente com mp3 player. De pé, virada para mim e para a crente, uma moça alta e bem vestida tira o celular da bolsa. É bonita, muito bonita. A moça, não a bolsa. Não que a bolsa seja feia, eu realmente não prestei tanta atenção.
"Oi, amiga" , diz a moça ao atender o celular. Voz grossa. Não Zélia Duncan grossa. Apenas grossa. "Ai, amiga, tô cheia de novidades. Eu sei que você também tem novidades, estou louca para ouvir. Mas deixa eu começar pelas minhas". Pensando bem, acho que era meio Zélia Duncan grossa sim.
"Eu conversei com uma amiga em comum, ela acha que ele gosta de mim. Mas, sei lá, ele não demonstra nada.", conta.
Não tinha como não rir. Quando a moça entrou no ônibus, toda imponente, toda altiva, jamais pensei que ela partilhava das mesmas inseguranças que o resto das mortais ao seu redor.
Me sentia impelida a responder as perguntas dela - e o fazia, em pensamento. "Eu não gostaria que ele saísse com outras pessoas, amiga, será que ele tá saindo com outras pessoas?" - (Provavelmente, Zélia, provavelmente.) - "Porque, se ele gosta de mim..." - (Não, Zélia, caminho errado.) - "Assim, eu acho, sabe, porque..." - (Não, Zélia, você não acha nada!) - "Mas a amiga em comum disse que ele..." - (Caralho, Zélia, cê tá foda hoje, hein?! ) - "Ele não demonstra nada..." - (There you go, Zélia, there you go.) - "Então você acha que eu devo sair com o Cláudio hoje?" - (Mas quem porra é Cláudio?) - "Cláudio!" - (...) - "Cláudio, o outro cara!" - (Então vocé tá me perguntando se eu acho que você deve sair com Cláudio - o outro cara?) - "'É, você acha que eu devo sair com ele hoje?" - (Eu não sei, Zélia. Você quer?).
"..."
(...)

"Usa-me, Senhooor, usa-me, sonda-me, quebranta- me" - começa a cantar a crente do mp3 player - "Transforma-me, enche-me, e usa-me, Senhooor..."
Ok, isso deve ser algum tipo de sinal. Chega de prestar atenção na conversa dos outros - embora eu tenha reparado que a Zélia desligou o telefone sem perguntar das novidades da amiga.
O ônibus para em frente a uma loja com a descrição "Family Shoes" na fachada. Family Shoes, Family Shoes, Family Shoes... O que eles querem dizer com isso? Será que eu passei a minha vida toda usando sapatos de prostituta? Sem dúvida, um rompante pra quem passou o primeiro semestre da faculdade com o apelido de "Santa".
E aí a crente do mp3 player recomeça: "Deeeus que não é homem pra mentiiir, tudo pode passar, tudo pode mudaaar..."
O ônibus acelera novamente. A invasão de pensamento levanta e puxa a cordinha. O óbvio toma seu lugar, silencioso como de costume. Apenas comenta, curto e grosso, "A Zélia não quer. Mas ela vai."
Cantando, com voz grossa:
"Eh! Eh! Eh!
Espero a chuva cair
Na minha casa, no meu rosto
Nas minhas costas largas"
 
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