natalia

sexta-feira, 20 de março de 2009

Adorável Honestidade


As pessoas (ok, ok, a Oprah e o Dr. Phil) sempre falam da honestidade como sendo algo indispensável para um bom relacionamento entre indivíduos. Mas o que elas esquecem - ou simplesmente ignoram - é que a honestidade nunca vem sozinha. Junto dela sempre há filões, que se grudam feito parasitas e distorcem o sentido original da palavra, como o mundialmente conhecido erro honesto.
O erro honesto é aquele deslize que você comete sem querer, sem intenção de causar danos ou malefício a outrem. A diferença entre o erro honesto e o erro convencional é que o primeiro se assemelha mais a um mal-entendido inocente. O erro honesto é a área VIP das mancadas.
Não me levem a mal, honestidade é uma coisa boa. Só que é tipo o anel de O Senhor dos Anéis. Dependendo de como a usa, você pode acabar perdendo o controle.
Uma vez reencontrei um antigo casinho, já não via o rapaz havia alguns anos. Estava toda boba, nervosa, falante, até que ele virou de costas e eu me deparei com a tanajura imensa que tinha tomado o lugar da bundinha proporcional que ele costumava ter. Quer dizer, aquela bunda tinha se tornado algo tão absurdamente gigantesco que eu nem posso dizer que me deparei com ela. Ela que se deparou comigo. Estava viva!
E o mais estranho é que ele não parecia ter engordado. O rosto estava normal, os braços estavam normais, a barriga, tudo. Exceto o traseiro. É como se, de alguma forma, todos os hambúrgueres com batata frita e Coca-Cola que ele havia ingerido durante aqueles anos tivessem ido parar direto na bunda, sem escalas. E eu não sabia o que dizer. Eu mal conseguia falar. Só ficava pensando em como aquela bunda desafiava todas as leis da natureza. "Você está diferente", ele disse, "Está mais bonita". Eu sorri e mudei de assunto, evitando responder: "Você também. O que porra aconteceu com a sua bunda???".
Repito, honestidade é uma coisa boa. Mas é como a pílula vermelha de Matrix. Nem sempre as pessoas estão prontas para ela. E, às vezes, por mais que elas queiram ser honestas, acabam optando pela pílula azul (metaforicamente, tá, ninguém aqui está falando de Viagra).
Por exemplo, suponha que um rapaz esteja num encontro com uma moça e mencione, num dado momento, um episódio envolvendo sua ex. Se ele perguntar: "Você se importa que eu fale da minha ex?" e ela responder que não, é muito provável que seja mentira. Honestamente, ela gostaria de não se importar, mas o que ela realmente está pensando é algo muito próximo de:
"Old Macdonald had a farm, ee-I-ee-I-o
And on that farm he had some chicks, ee-I-ee-I-o"...

Ela não vai mudar de assunto de cara. Antes, vai testar seus limites, tentar transcender o desconforto (como ela faz quando come pimenta), enquanto continua a cantarolar mentalmente:
"With a cluck, cluck here, a cluck, cluck there
Loud as they could be"...

Ser honesto com os outros não é uma tarefa fácil. Implica em riscos e em exposição. Mas talvez seja ainda mais difícil ser honesto consigo mesmo. Deve ser por isso que ainda existem tantos rapazes por aí com mais de trinta, morando com a mãe, ouvindo a coletânea dos maiores sucessos da Bette Midler enquanto compram no Mercado Livre um box com todos os filmes já estrelados pela Barbra Streisand.
"Hooonestyyy is such a lonely word
Everyone is so untruuue"...

terça-feira, 17 de março de 2009

A Volta da Psicose


Olá. Meu nome é Natalia e eu sou uma psicótica.
(Vamos lá, todos juntos, em uníssono: Olááá, Nataaalia!)
Tudo começou durante uma conversa via msn com um amigo, em que eu listava uma série de hipóteses para justificar a demora em receber uma certa ligação. Aquela boa e velha ligação do dia seguinte (pra não dizer maldita-escrota-safada-Torquemada-torturante ligação do dia seguinte).
Eu explicava pra ele que encarar o celular e repetir o famoso mantra bundista "me liga, me liga, me ligammm" não era do meu feitio. Mas daquela vez era diferente. E justamente por isso, é claro, amamos o Murphy, o telefone não tocava. Ele pode ter morrido, arriscou meu amigo. Morrer é uma hipótese universal.
Mas eu sabia que ele não tinha morrido. A foto dele estava entre as mais recentes no orkut. E a menos que o inferno tenha internet, o miserável infeliz estava bem vivo, com dedos ágeis o bastante para trocar scraps com uma Priscilla, uma Carla e duas Robertas, mas não o suficiente para pegar a droga do telefone e ligar para a porcaria do meu número.
Assim, sem querer especular, porque acho que isso não leva a nada... Mas são duas e meia da manhã e tenho certeza que ele acabou de chegar em casa depois de sair com a Priscilla! Ou com a Carla! Com as Robertas eu sei que não. Muito feias, sem chance.
Você é psicótica, disse meu amigo. Não sou não, respondi, super ressentida, enquanto abria uma nova guia e digitava "psicótica" no google, só para encontrar as seguintes informações:
"Características de um psicótico"
"1 - Comportamento desorganizado, incapaz de terminar o que começa".
(
Bem, eu terminei este post. Como vocês podem verificar, ao final deste post. Que eu terminei.)
"2 - Veste-se inadequadamente e não atende aos apelos dos familiares". (Comprei uma saia balonê preta que segundo minha mãe é um novo nome para saco de lixo. Mas ignorei o comentário simpático e usei assim mesmo.)
"3 - O senso de perigo pode ser perdido, como a falta de cuidado com o fogo". (Eu posso ter, acidentalmente, incendiado um pano de prato no primeiro dia de trabalho. Mas ninguém viu. E se ninguém viu, então não aconteceu.)
"4 - O sono, como em todos os transtornos psicóticos, fica diminuído". (Tá, olha só, eu não tenho culpa de ter insônia! Cala a boca!)
"5 - Alguns pacientes tornam-se repetitivos nos gestos ou nas palavras". (Cala a boca! Cala a boca!)
"6 - Surgem personagens das fantasias delirantes, com que o paciente se relaciona". (Se você está falando dos marinheirinhos do meu lençol, eu já expliquei que tinha cinco anos e estava com muita febre. Agora chega, não vou mais discutir com você, Rodney, você é um canguru!)
Você É psicótica, meu amigo repetiu. Mas é adorável.
E cá estamos.
 
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