
Ok, eu admito. Confrontação não é meu forte. Talvez por isso tenha escolhido escrever como profissão. Quando você escreve, a única confrontação que existe é entre você e uma folha de papel em branco (ou, no caso, uma tela de computador em branco). E papel aceita tudo. Não discute, não argumenta, não te contradiz. Com isso eu sei lidar, disso eu entendo alguma coisa. Mas quando se trata de pessoas, tudo muda.
Para vocês terem uma idéia, já faz 1 ano que eu tento me livrar da minha analista. Por coincidência, também já faz 1 ano que eu frequento a analista.
Já usei todas as desculpas possíveis: falta de tempo, falta de dinheiro, localização geográfica pouco conveniente, tudo. Mas a mulher sempre vem com uma solução para os problemas que eu levanto. Ela é uma espécie de Mister M da psicanálise, desmascarando meus truques, revelando meus artifícios. Maldita paladina freudiana.
Mas outro dia eu perdi a paciência. Fui direta e disse que a partir daquele momento não iria mais frequentar as sessões de terapia. Estava decidida e nada me faria mudar de idéia. Disse isso tudo, de maneira implacável. E depois cliquei em "enviar".
Sim, eu fiz isso. Eu terminei por e-mail.
Não sou boa em confrontações. Pra mim é simplesmente inconcebível sentar de frente para essa mulher e dizer que a terapia não está funcionando. Que ela não está conseguindo me ajudar. Que eu quero procurar outra pessoa.
Ela chegou a sugerir que marcássemos uma consulta para discutirmos minha decisão juntas. Mas pra mim isso não faz o menor sentido. Eu não quero continuar! Por que diabos vou pagar uma sessão pra dizer isso a ela pessoalmente?
Uma amiga minha chamada - digamos - Bete, estava saindo com o - vamos dizer - Orlando. Apesar de estar tudo bem entre os dois, alguns detalhes sobre o modus operandi de Orlando fizeram Bete perceber que ele não estava - aproveitando o ensejo - tão a fim dela. Orlando sugeriu os dois conversassem, mas Bete preferiu fugir.
O motivo que levou Bete a evitar a conversa com Orlando foi parecido com o que me levou a terminar a análise por e-mail. A Bete sabia onde aquela conversa iria dar. Com ou sem diálogo, no fim das contas, o resultado seria o mesmo. Confrontar Orlando e expor seus sentimentos não mudaria em nada o quadro geral. Então por que, por que a Bete se daria ao trabalho de escolher uma roupa, arrumar o cabelo, passar lápis no olho de maneira simétrica só para se sentar diante de Orlando e ouvir dele tudo que ela já sabia? Que tipo de masoquista faria uma coisa dessas?
Não sou boa em confrontações. Mas escrever sempre foi um ofício confortável. O papel não diz o que você não quer ouvir. Ele não te decepciona, não se fecha, não diz não. Diferente das pessoas, ele está sempre pronto, sempre disponível. E você nem precisa usar maquiagem. Assim como ele, tudo o que você precisa fazer é se apresentar de cara limpa. Et voilà!