domingo, 30 de agosto de 2009
McDia Psicótico
Engordei três quilos nas duas últimas semanas, então resolvi dar uma maneirada nas besteiras. Exceto ontem, quando fiquei completamente fora de controle e, mesmo depois de comer sozinha uma barra inteira de chocolate, acabei indo parar no antro da perdição das dietas: o McDonald's. Eu e metade da cidade.
De todos os dias do ano, eu tinha que escolher justo o McDia Feliz. Aquilo não podia dar certo. Primeiro porque se eu estava indo comer no McDonalds em pleno sábado à noite aquele definitivamente não era um dia feliz. Segundo porque se tem uma coisa pior do que não estar num dia feliz é ainda ter que lidar com pessoas felizes.
- Boa noite - disse a vendedora, com um sorriso assustador que revelava o aparelho fixo. - Vai querer um Big Mac?
- Ah, não. Eu não sou muito fã do Big Mac - confessei, enquanto a expressão dela mudava drasticamente.
- Mas não é pra você, é pras crianças - ela afirmou.
- Elas vão comer o meu sanduiche?
- Não. Toda a venda do Big Mac será revertida para as crianças com câncer - explicou. Com câncer! - repetiu, arregalando os olhos.
- Ah. Nesse caso, eu vou querer um Cheddar.
- Você não quer ajudar as criancinhas? - perguntou, chocada. - Ela não quer ajudar as criancinhas! - gritou, chamando a atenção das pessoas em volta.
- Não é isso! Eu só não gosto do Big Mac!
- Como assim você não gosta do Big Mac? É um sanduiche perfeito! Dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim!
- Eu não gosto do picles!
- Ah, você não gosta do picles?
- Não, não gosto do picles.
- Então pede sem - ela disse, cruzando os braços como se tivesse vencido um debate.
- Eu não vou pedir sem. Quando você pede um sanduiche sem alguma coisa demora um século pra ficar pronto! O que não faz o menor sentido, já que é uma coisa a menos!
- Você é má!
- Eu não sou má!
- Você é má, você é má! - as crianças da fila começaram a repetir.
- Vocês deviam dizer isso aos seus pais, que trouxeram vocês pra esse lugar maldito. Aposto que aquelas criancinhas se entupiam de Big Mac! - disse, apontando para o cartaz do McDia Feliz.
A pirralhada ficou muda imediatamente.
- E esse Cheddar sai ou não sai, hein? - indaguei, enquanto a vendedora me encarava, perplexa - A propósito, tem um pedaço de picles no seu aparelho.
- Você não vai ganhar adesivo! - ela avisou, com cara de choro.
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quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Psicose Tecnológica
Então eu estava almoçando com uns colegas de trabalho. Do nada, eles sacam os celulares e começam a passar uns para os outros:
- Ó que lindinho, tem seis meses - diz um.
- Que gracinha! O meu tem um ano, olha - a outra mostra.
- Ah, muito bonitinho! O meu já tem dois. Tá deixando de ser novidade - confessa a terceira.
Todos se juntam para olhar, ao que eu pego o meu smartphone e deposito sobre a mesa, animadíssima.
- Comprei ontem. Ganhei!
Todos me olham confusos. Finalmente reparo que eles estavam mostrando as fotos dos filhos.
Breve momento constrangedor.
- Mas ele não é lindo, gente? - prossigo, de qualquer forma - Tão inteligente! Escreve, lê e-mail... Tem uma memória que só vocês vendo! Me dá tanto orgulho... - tentava concluir, enquanto arrastava lentamente o aparelho em direção à bolsa.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Da Série: Rapidinhas da Psicótica
Quase nunca me interesso por alguém. Mas quando acontece, eu geralmente sofro algum tipo de mutação e me transformo na íncrível máquina de falar coisas estúpidas.
Como daquela vez em que eu fiz a piada sobre sífilis no segundo encontro e o cara ficou me olhando assustado.
- Muito cedo pra piadas sobre doenças venéreas, né? - concluí. - O que você prefere então? Gays, negros ou judeus?
Silêncio.
- Mais um chopinho? - arrisquei.
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Psicose Olfativa
Eu estava esperando para fazer um exame, sentadinha numa daquelas cadeiras da área de espera. Tava na minha, quieta, como sempre. Na televisão, passava um dvd do George Michael. Eu devia estar esperando há algum tempo, porque já era a segunda vez que tocava "Freedom".
Foi nessa hora que aconteceu. Bem ali, enquanto eu pensava no que iria almoçar ou em outra trivialidade qualquer. O cheiro dele, ao meu lado, em outra pessoa.
Cheiro é uma coisa incrível, né? Remete a uma porção de histórias. Que nem o cheirinho de madeira misturado com gás de cozinha e coisas guardadas que me lembra a casa da minha avó em Teresópolis. Ou o cheiro de mel e grama molhada da colônia de férias quando eu tinha sete anos.
Aquele cheiro não pertencia àquele homem sentado ao meu lado. Ele não tinha o direito de cheirar daquele jeito.
Inconscientemente, acabei chegando mais perto. Só reparei que tinha passado dos limites quando já estava praticamente com o nariz no cangote dele.
- Que que você tá fazendo? - ele quis saber.
- Nada - respondi, fingindo não entender do que ele estava falando.
- Você tava me cheirando? - ele perguntou, num misto de estranhamento e medo.
- Claro que não! - rebati, desviando o olhar.
Me afastei um pouco e tentei me concentrar no George Michael. Mas enquanto ele cantava, todo afetadinho, "Freedooom, Freedooom", eu sentia exatamente o oposto. Estava presa em algum tipo de movimento involuntário em direção àquele cheiro.
- Você tá me cheirando sim, eu vi! - disse o homem.
- A culpa é sua! Ninguém mandou você sentar do meu lado cheirando igual a outra pessoa!
- Que outra pessoa?
- Não interessa! Não é você! - rebati. - Ou é? - perguntei, encarando-o desconfiada.
- Você veio fazer tomografia do cérebro?
- Não. Você veio fazer exame de próstata?
- Sim - respondeu, sério.
- Ah... Foi mal...
- Tudo bem, eu entendo você - ele disse.- Quando eu sinto o perfume da minha ex, também fico assim, chateado.
- Eu não tô chateada. Eu estou puta, é diferente - expliquei. - Mas que bom que você me entende.
- Tive uma idéia! Você pode colocar um pouco do perfume dela - propôs, enquanto tirava um vidrinho do bolso da camisa. - Aí eu fico cheirando você também e todo mundo sai ganhando.
Imediatamente desfiz meu semblante simpático.
- Tu tá maluco, ô, pervertido? Que papo é esse de todo mundo ficar se cheirando? Tá achando que eu sou o quê? Cachorro? - esbravejei, já me levantando pra trocar de lugar - Vê se pode uma coisa dessas! É cada uma que a gente escuta por aí, né? - perguntei à velhinha sentada do meu outro lado, que provavelmente estava lá para fazer algum exame auditivo.
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terça-feira, 18 de agosto de 2009
Psicose e Praia
Sou super branquela. Do tipo azeda mesmo. E moro no Rio, onde ser bronzeado é praticamente um dever moral. Ai de mim se resolver desfilar minhas canelas fluorescentes pela cidade. Em pouquíssimo tempo, entro numa espécie de twitter da vida real. Tem sempre alguém querendo divulgar pro mundo o que pensa da minha cútis. Tipo os colegas da construção civil gritando "ê, perna branca" ou os neo-hippies cheios de dread que vêm me vender pulseirinha e se arriscam em vários idiomas, achando que eu sou gringa.
Mas o pior é quando eu resolvo ir à praia. Rola desde cobrar mais caro pela cadeira até gente tentando me empurrar passeios turísticos. Uma vez eu desisti de explicar que era carioca e respondi em uma língua maluca, com os olhos arregalados e gesticulando bastante. Deve ter funcionado. Ou, no mínimo, eles acharam que eu era uma fugitiva do hospício.
Agora, o que mais me irrita quando estou na praia são as mensagens subliminares dos vendedores ambulantes. Que nem outro dia, quando eu estava na minha, quieta, e vieram uns três gritando: CAMARÃO! CAMARÃO! CAMARÃO!
Ah, mas eu não deixei barato não! Levantei-me da cadeira e fui até eles, possessa:
- Olha só, eu estou aqui na praia, exercendo minha cidadania, cumprindo com minhas obrigações enquanto moradora da região litorânea de um país tropical e os senhores me vêm com essas indiretas? Tudo bem, eu admito, eu estou ligeiramente avermelhada, ardida, não faço idéia de como vou conseguir dormir hoje à noite, mas isso não dá aos senhores o direito de ficar gritando "camarão, camarão, camarão"!
E nisso passou outro gritando: OLHA A PAMONHA! PAMONHA!
- Pamonha é a tua mãe, ô, babaca! - berrei. - Ah, faça-me o favor! Olha a falta de respeito! A pessoa não pode nem vir à praia sem sofrer esse tipo de abuso. Preconceituosos! - concluí, enquanto juntava as minhas coisas e devolvia a cadeira, já me preparando para a noite da pasta d'água.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Da Série: Rapidinhas da Psicótica
Existem três tipos de cara. O que você sai por diversão, o que você resolve investir e o que você gosta mas não te quer. Eu estou saindo com os três.
Espero que nenhum deles leia meu blog.
Para ouvir bem alto e dançar sozinha pela casa.
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quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Psicóticas Manipuladoras
- Sai comigo amanhã - ele propôs.
- Não - respondi, cínica.
- Por que não?
- Porque amanhã eu vou sair com outra pessoa.
- E daí? - ele rebateu.
- E daí que eu não acho ético sair com dois caras na mesma noite.
Ele riu.
- E depois, eu sempre acho que o segundo vai perceber que houve um primeiro. Instinto animal. Meu gato sempre sabia quando eu pegava em outros gatos.
- Seu gato?
- É. De estimação.
- Ah. Mas homem é burro - ele admitiu. Homem nunca acha que a mulher tá saindo com outro. Ele acha que a garota tá na dele.
- Ah, é?
Fiquei quieta por alguns instantes, assimilando aquela informação.
- Quer dizer que enquanto eu fico me remoendo por dentro, achando que o cara tá por aí pegando outras...
- ...Porque ele provavelmente está...
Interrompi o raciocínio só para lançar um olhar de desprezo.
- Enfim, - prossegui - enquanto eu fico toda insegura, ele tá lá tranquilão achando que eu tô sentadinha esperando ele me ligar?
- É por aí.
- Mas eu tô aqui pegando você!
- Mais ou menos, né? Agora você tá só falando - reclamou.
- É, é, shh. Deixa eu pensar. Quer dizer que tudo que eu fiz até hoje para deixar os homens com ciúmes foi completamente em vão? Todas as vezes que eu pedi para uma amiga ficar ligando vinte vezes pro meu celular só para eu fingir que estava falando com outro cara... tudo à toa?
- Provavelmente.
- Mas as minhas terapeutas sempre diziam: "Natalia, os homens também têm as inseguranças deles".
- É, mas isso tem mais a ver com o tamanho do pinto.
- Talvez você tenha uma auto-estima muito acima da média.
Ele sorriu, orgulhoso.
- Eu disse auto-estima acima da média, tá, não falei nada sobre o seu pinto!
Fui embora ainda desnorteada. Aquela conversa tirou uma das maiores armas que as mulheres pensam que têm: provocar ciúmes. Agora eu preciso encontrar uma nova forma de manipular os homens com quem eu saio. Uma que funcione, pelo menos. Alguma sugestão?
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domingo, 9 de agosto de 2009
Da Série: Diálogos Psicóticos - Cap. 2
Queria saber se ele estava saindo com outras, mas não queria dar o mole de perguntar. Muita bandeira, né? Vale muito mais a pena ficar especulando e criando todo tipo de imagem mental envolvendo surubas, bacanais e ninfetas com peitinhos firmes que não precisam de sutiã.
Estávamos na pizzaria, eu e ele.
- Quer pedir caprese, como da outra vez? - eu sugeri.
- Pode ser. Metade caprese e metade outro sabor.
Fiquei com a pulga atrás da orelha.
- Ué, por quê?
- Ah, a gente já provou a caprese, agora pode variar e experimentar outra coisa.
Cruzei os braços e perguntei:
- Qual o problema da caprese?
- Nenhum, a caprese é ótima. Mas pode ter outra melhor.
Respirei fundo, profundamente magoada.
- Então é assim? - indaguei.
- Assim como?
- A caprese não é o suficiente pra você? Você acha que tem coisa melhor por aí? Então, tá! Que outra você quer comer?
- Sei lá. Pode ser a napolitana.
- Ah, a napolitana... Deixa eu te perguntar uma coisa. O que que a napolitana tem que a caprese não tem? Ela é mais gostosa? Mais legal? Mais inteligente?
Ele estava visivelmente confuso.
- Quando a gente veio aqui da outra vez e você disse que gostava muito da caprese era tudo mentira? - desabafei. - Vai lá. Pede a napolitana. Pede o que você quiser. Eu lavo as minhas mãos.
Silêncio.
- A gente ainda tá falando da pizza? - ele perguntou.
- Sim, sim, está. Pizza pra mim é um assunto muito sério.
Ele sorriu.
- Você quer que eu peça uma inteira caprese?
- Não quero impor nada. Pede se quiser.
- Eu quero uma inteira da caprese, então.
- Agora eu não quero mais. Você só tá pedindo porque eu reclamei. Não foi espontâneo.
- Eu não quero comer nenhuma outra, só a caprese. Pode ser?
- E a napolitana? - testei.
- É horrível. Tem alho, dá bafo.
Eu sorri. Assim que eu gosto. Nada como uma conversa clara e objetiva para resolver assuntos pendentes.
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Da Série: Diálogos Psicóticos
Então eu estava no meio da consulta com a Dra. Natalia, ainda achando super engraçado termos o mesmo nome, quando veio a pergunta:
- Quantos parceiros?
- Um! - respondi apressada.
- Não, eu digo na vida.
- Ah. Pensei que fosse atualmente, fiquei com medo de você me julgar se eu respondesse outra coisa - justifiquei, enquanto começava a contar nos dedos.
- O que você tá fazendo? - perguntou a Dra. Natalia.- Não precisa contar, não! Isso é péssimo, traz lembranças...
Imediatamente parei a contagem e olhei para ela. Que médica pra frentex...
- Faz o seguinte - ela disse, se inclinando sobre a mesa - Me diz só se foi de 1 a 5 ou de 6 a 10.
Desviei o olhar. Ela fez uma cara de surpresa e se preparou para anotar qualquer coisa na minha ficha.
- Não, não, espera. Segunda opção, segunda opção!
- Natalia...
- Juro, é que eu tava na dúvida se algumas coisas contavam...
Ela anotou algo.
- Sério, não foram mais de dez. Nada contra...
- Você é casada? - ela perguntou, ainda com os olhos na ficha.
- Não.
- Tem namorado?
- Não...
- Está saindo com alguém regularmente?
- Sei lá, doutora! Quer que eu ligue pro cara e pergunte?
Ela riu e disse que não precisava. Questionário mais humilhante. Só faltava perguntar: "Mas tem alguém a finzinho de você, pelo menos? Não? Nada, nada? Poxa, ninguém te quer mesmo, hein, Natalia?! Peraí, deixa eu só anotar aqui na sua ficha: re-jei-ta-da."
- Você trabalha com o quê? - ela perguntou, quebrando o clima.
- Escrevo para um programa de humor.
- Ah, é? Legal. Será que isso aqui vai virar uma cena? - perguntou, sorridente.
- Acho que não. Quase nunca escrevo sobre minha vida pessoal...
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Crise do quarto de idade
Eu tinha ido à farmácia para comprar uma escova de dente e uma pasta. Havia esquecido o meu kit em casa e isso pode se tornar um problema para quem é obcecada por higiene bucal. É que eu tenho uma mãe dentista. Dentista e neurótica. Minha infância foi marcada por histórias medonhas sobre cáries, obturações e pessoas banguelas, o que fez de mim uma pessoa completamente condicionada.
Por isso eu fui à farmácia. Já estava com a escova e a pasta na mão quando fui abordada por uma simpática consultora de cosméticos. Ela perguntou se eu não estaria interessada em fazer uma consulta grátis para análise da minha pele. Por que não?, pensei, já me dirigindo ao local da consulta. E nisso a consultora foi pegando uma lente de aumento e um espelho. Maldita hora. Que se danem as cáries! As verdadeiras vilãs estavam bem ali, anunciando o começo de uma nova Era. "Suas linhas de expressão estão no grau dois", a consultora disse.
Grau dois? Como assim grau dois? Quando é que eu fui grau um, meu deus? Ninguém nem me avisou que eu tinha deixado de ser grau zero!
"Quando isso aconteceu?", perguntei.
"A partir dos vinte e cinco anos as linhas começam a aparecer", ela alertou. "Quantos anos você tem?"
"Treze?", arrisquei.
Não pode ser. Eu só tenho vinte e quatro anos. Eu estou sofrendo de velhice precoce!
"Quantos graus faltam?", perguntei.
"Pra quê?", ela rebateu.
"Como pra quê? Preu ficar...velha."
"Bom, a gente não coloca nesses termos... ", ela tentava disfarçar enquanto eu cruzava os braços e a encarava friamente. "Ok, mais três graus e você vira a sua avó", ela revelou, finalmente.
Não. Não, não, não. "É o protetor solar, né?", questionei. "Eu devia ter usado mais protetor solar. Minha avó sempre dizia, 'usa protetor solar, minha filha', mas eu não dei ouvidos. Eu vou comprar protetor solar, vou comprar muito protetor solar", disse, enchendo minha cestinha.
Como é que eu fiquei velha e não percebi? Eu já deveria ter feito muitas coisas antes dos vinte e cinco anos! Eu já deveria morar sozinha em vez de gastar todo meu dinheiro com roupas. Eu estou velha, cheia de rugas grau dois e ainda moro com a minha mãe!
"Suas roupas são bonitas", ela disse.
"Obrigada", respondi, chorosa. "Eu comprei em liquidação, tem outras cores também."
"Ah, é?", ela perguntou, interessada.
"É, a loja fica bem aqui na esquina", completei, me recompondo. "Mas me diz, consultora de cosméticos, minha líder, o que eu preciso fazer? O que você disser, eu faço!"
E foi assim que eu saí da farmácia com uma escova e uma pasta de dente no valor de dez reais e noventa centavos... e mais de trezentos reais em cosméticos anti-envelhecimento.
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Psicose Reflexiva 4 - Sobre dores de cabeça e outros incômodos
Não faço análise. Até a presente data, nenhum terapeuta foi capaz de me segurar. Sou uma garota difícil.
Em compensação, escrevo este blog. Aqui, conto com terapeutas anônimos, de todas as partes e que seguem diferentes linhas psicanalíticas. É por isso que eu deixo aí embaixo um link chamado "Diagnósticos". É a minha forma de descobrir o que os outros psicóticos pensam das minhas psicoses.
Pois bem. Outro dia tive um daqueles primeiros encontros bem típicos. Cinema e pizza. Seria ótimo, não fosse pela dor de cabeça sobre-humana que se apossou de mim durante o filme, feito um belzebu dos infernos.
Na saída, apesar daquela dor horrível praticamente sussurrar no meu ouvido: "se mata, se mata, dá um tiro na sua testa agora", eu aceitei ir comer pizza. Cheguei a mencionar que estava sentindo um leve incômodo na cabeça e procurei alguma farmácia nas proximidades. Não encontrei.
Depois de comer, creio que acabei alimentando a entidade monstruosa que habitava meu cérebro, porque a dor foi se tornando cada vez mais forte, até chegar no limite do insuportável. A ponto de eu não conseguir mais desenvolver nenhum raciocínio. Eu só olhava fixamente para aquela faca repousada sobre a mesa e pensava: "E se eu fizer furos na minha cabeça, será que ela vai embora?".
Eu queria ser honesta, queria dizer a ele exatamente o que eu estava sentindo naquele momento, que era algo bem parecido com "AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!". Mas não podia. Eu tinha disfarçado por muito tempo, não dava para voltar atrás. Ia parecer que eu tinha inventado uma dor de cabeça do nada. E logo dor de cabeça, a desculpa mais clichê que existe. Não. Eu tinha que levar aquilo até o fim.
Voltando para casa, não havia mais como disfarçar. Eu estava começando a ficar autista. Então ele perguntou: "Você está com muita dor, né?". Eu só fiz que sim, com uma cara de tacho, de criança pega fazendo besteira. E eu tinha mesmo feito besteira.
O caso da dor de cabeça foi um exemplo simbólico, claro e inegável de que eu realmente preciso rever meu modus operandi. Eu sempre faço isso. Sempre escondo o que estou sentindo e me convenço de que está tudo bem, esperando que as coisas melhorem. Mas as coisas não vão melhorar sozinhas, do nada.
Para sua dor de cabeça passar, assim como qualquer outra coisa chata na vida, você precisa tomar uma atitude. E a primeira delas é admitir que algo está incomodando. As pessoas não são adivinhas. Quanto mais você se esforça para mostrar que está tudo bem, mais longe você fica de encontrar o remédio.
Nunca nenhum terapeuta conseguiu colocar essa questão de maneira tão evidente. Tô achando que o blog é mais jogo...
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