Interrompemos a programação psicótica para a postagem de uma das cenas mais incríveis da TV brasileira. Não me canso de ver, nunca.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Humor inglês e guerra de comida
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Te pego lá fora
As redes sociais trouxeram consigo dois grandes benefícios - e não, eu não estou falando daquelas chatices do Farmville e do Mafia Wars. Eu me refiro aos poderes quase divinos que essas redes nos emprestam. Lá nós somos onipresentes e, principalmente, oniscientes. O que é ao mesmo tempo uma dádiva e um estorvo.
O Facebook, por exemplo, tão inventivo e sagaz, devia ter algum tipo de aplicativo que nos avisasse precisamente o momento de parar nossas pesquisas nos perfis alheios. Ainda mais se o perfil alheio em questão for o de alguém em que você está interessado.
Porque até um certo ponto a pesquisa é saudável. É justa, é digna. Mas a fronteira entre a dignidade e o excesso de informação é meio nebulosa. Quando você se dá conta, já está a quilômetros de distância da tal fronteira, mais precisamente na página da melhor amiga da garota que você suspeita que o tal "alguém" esteja pegando.
Aliás, ênfase na palavra "pegando". Mais uma daquelas informações que era melhor não saber. Que o Facebook Team devia ter te impedido de descobrir, bloqueado seu acesso, te distraído com um anúncio irritante do Farmville, o que fosse.
Quando alguém que te interessa usa o termo "pegar", não tem como a carapuça não te servir imediatamente, quase que numa surra de carapuça. Você vai ser pega por ele, muito em breve. E vocês vão aprontar uma tremenda pegação.
Mas vá lá. Eu confesso que de vez em quando também me escapa um "peguei fulano", entre amigos, num clima de descontração alcoólica. Só que estando do outro lado e analisando friamente, não posso negar que me senti um pouquinho desconfortável.
"Pegar" é um termo tão juvenil, tão casual. Você pega uma fruta na geladeira, um suco. No meu caso, eu não pego nada, porque a minha geladeira está sempre vazia ou com restos de comida chinesa. O que, convenhamos, não é lá muito diferente da minha vida afetiva.
Quando você diz que "quer pegar fulano" ou que "está pegando sicrano", a impressão que dá é que o objeto da sua pegação é tão importante quanto o rolinho primavera que sobrou do almoço. Pegar é sinônimo de absolutamente nada relevante. Assim como a comida na geladeira, você pega, você come, você joga o resto fora.
Eu sinto falta da época em as pessoas usavam o termo "ficar". Porque, bem ou mal, você não está só "pegando" o indivíduo, você está "ficando"com ele. É uma evolução de comida de geladeira para bichinho de estimação.
Por isso, a partir de hoje, eu não vou "pegar" mais ninguém. Ok, mentira. De vez em quando acontece. Mas enquanto as redes sociais me permitirem ser onisciente, eu detestaria saber que alguém me considera "pegável".
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Episódio 2 - O cinema sozinha
Pra quem perdeu na tevê e pra quem gostou e quer assistir de novo, aí está:
Parte 1
Parte 2
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sábado, 18 de dezembro de 2010
Sem ex, com orgulho (ok, mentira)
Situação clássica. Reunião de amigos, chega um desavisado e pergunta do namorado de uma das garotas presentes. Silêncio constrangedor, alguns olhares enviesados, tensos. "Eles terminaram", alguém diz, por fim. E aí vem aquela chuva de "que penas", "que chatos", "que tristes".
Todo mundo sempre lamenta quando um casal se desfaz. Mesmo quando uma das partes era claramente a escrota e a outra vai ficar bem melhor sem ela. Mesmo assim. As pessoas sempre sentem muito. Ainda que o sentimento não dure mais que dez segundos.
Agora experimenta passar pela mesmíssima situação, só que em vez de namorados, trata-se de duas pessoas que saíam há um tempo. Sem denominações oficiais.
Vou te poupar do constrangimento e contar logo o que acontece.
Ninguém
se
comove.
Nin-guém.
"E o fulano?", pergunta o mesmo desavisado de antes. Só que agora não tem silêncio constrangedor, nem olhar enviesado. Junto com a total indiferença das pessoas, vem uma observação técnica, desprovida de qualquer sentimento. "Ah, eles pararam de sair". Assim mesmo, "ah, eles pararam de sair", impassível, como se o vínculo desfeito não fosse digno de um "que pena" ou um "que chato".
Quando você não namora, você perde uma porção de direitos perante a sociedade, dentre eles o de sofrer com a perda da outra pessoa. Mesmo porque você não pode sofrer pela perda de algo que tecnicamente você nunca teve.
Até com meu analista eu me sinto um pouco idiota de reclamar de um ex que não foi namorado. Um ex-qualquer coisa. Um ex-nada.
No máximo, um ex-trume.
THE INK SPOTS, "If I Didn't Care".
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Episódio 1 - O Mó Astral
Tô cheia de psicoses novas pra contar, faço isso até sábado. Por ora, vos deixo com o primeiro episódio da série, que finalmente caiu na internet!
Beijocas e já volto!
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
Sobre status quo e pessimismo
A maioria das pessoas, pelo menos as que eu conheço, fica feliz ao receber uma notícia boa. O que aparentemente é uma coisa normal. Exceto pra mim. Quando eu recebo uma notícia boa, eu fico desconfiada. Quando é mais de uma notícia boa ou, pior, quando elas são todas ótimas, incríveis e extraordinárias, eu fico muito, mas muito preocupada.
A questão é simples e muito compreensível, basta que você acompanhe meu raciocínio: não é possível que tantas coisas boas aconteçam pra uma só pessoa, de uma só vez. É como jogar cartas e receber quatro, cinco coringas juntos. Pra isso acontecer, alguém no jogo vai ter que se dar mal.
A princípio, a lógica parece boa pro dono dos coringas. Tudo indica que ele está no controle da situação, que é o rei da partida. Só que na hora de bater, seu jogo pode acabar todo sujo. E o outro jogador, aquele desprovido de sorte no começo, tem tudo pra vencer com uma porção de canastras reais.
O que eu quero dizer é que notícias maravilhosas e inacreditáveis não são garantia de nada. Até porque existe uma razão para elas se chamarem "notícias inacreditáveis". Não me interessa o que seu terapeuta motivacional disse, a vida simplesmente não pode ser assim tão generosa.
O Universo precisa estar balanceado. É o tal do status quo. Maldito status quo. Isso significa que quando você recebe várias notícias boas durante um dia, alguém, em algum lugar desse imenso planeta, ficou sem coringas. E amanhã, quando a partida recomeçar e as cartas forem novamente embaralhadas, o Universo vai te tirar alguma coisa. E aposto que vai ser aquele ás de copas.
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terça-feira, 23 de novembro de 2010
Momento "Frankly my dear"
Tá decidido.
A partir de agora teremos aqui o Momento "Frankly my dear".
O que é o Momento "Frankly my dear"? É uma pequena pausa na programação para deixar claro o quanto eu não me importo com determinado assunto. É inspirado numa fala do filme "E o vento levou", em que o personagem do Clark Gable diz a Scarlett O'Hara, interpretada por Vivien Leigh: "Francamente querida, eu não tô nem aí."
E o "Frankly My Dear" dessa semana vai para o autor do seguinte comentário:
"Querida(?) Nathália. Tente achar um tempo na sua nova agenda lotada de atriz e tente postar coisas interessantes nesse blog, afinal, eu frequento essa bagaça muito antes de você inventar essa moda de aparecer na tv. Dê mais consideração para os seus leitores do blog. ESTRELA!"
Tenho bastante consideração pelos meus leitores, mas quanto a esse... "Frankly my dear"...
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Guarda-roupa da psicótica
A primeira temporada da série "Adorável Psicose" foi curtinha e deixou - pelo menos em mim e na equipe - um gostinho de quero mais. Pois bem. Enquanto a segunda temporada é produzida, o Multishow vai reprisar os cinco episódios da primeira. Então quem perdeu vai ter a chance de acompanhar. E quem acompanhou (e gostou) vai poder rever.
Aproveito a deixa para agradecer a alguns parceiros, já que sem o apoio deles teria sido bem mais difícil produzir a série. Foram todos escolhidos pela (minha, minha!) figurinista incrível Melina Akerman.
A partir de agora, vou postar aqui todos os looks da série, para quem tiver curiosidade de saber. Por ora, deixo um imenso obrigada a todas as marcas que formaram o guarda-roupa da psicótica.
Luko: roupas e acessórios femininos www.luko.com.br
Diversa : roupas femininas www.dversa.com
Comparsaria: sapatos femininoswww.comparsaria.blogspot.com
Treelip: roupas masculinas www.treelip.com.br
Le Berbat: bijouterias www.leberbat.wordpress.com
Addict: roupas masculinas www.verdadeiraidentidadeaddict.com.br
Gotlib Vintage: casquetes www.gotlibvintage.com
Q- Vizu: roupas unisex www.qvizu.com.br
Thais Gusmão: lingerie www.thaisgusmao.com.br
Shop 126: roupas femininas www.shop126.com.br
New Order: acessórios www.neworder.com.br
Via Mia: acessórios www.viamia.com.br
Rosa Mundi: roupas femininas http://www.flickr.com/photos/rosamundi_/
City Shoes: sapatos femininos www.cityshoes.com.br
Melissa: sapatos femininos www.melissa.com.br
Antix: roupas femininas www.antixfashion.com.br
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terça-feira, 16 de novembro de 2010
Da série: psicose reflexiva
Neste texto, eu estava pensando em associar meu fracasso afetivo ao fato de que eu nunca conheci ninguém em circunstâncias especialmente interessantes. Eu ia enumerar diversos casos de amigos que conheceram pessoas de maneiras peculiares. Como uma amiga, que encontrou um cara numa boate comendo um bolo de aniversário. Ele ofereceu um pedaço a ela, que aceitou e só depois descobriu que o moço sequer conhecia o aniversariante. Estão juntos há sete anos.
Eu planejava contar como nunca conheci ninguém de uma forma memorável. E como, de repente, isso poderia dizer muito sobre meus relacionamentos. Porque, pensa bem, se é pra passar um bom tempo com alguém, seria legal ter uma boa história para contar, e encerrar com um suspiro, seguido da tradicional "e foi assim que nos conhecemos."
Mas até então eu só tive histórias enfadonhas. Do tipo "e então eu cheguei no aniversário da minha amiga e o primo dela... tava lá." Ou então, "nós trocamos dois ou três e-mails de trabalho e depois fomos jantar... num restaurante." Uau, hein?
Esse seria o tema do texto. Mas aí eu percebi uma coisa. Eu percebi que dou muito valor às coisas que eu não tenho. Eu não tenho um namorado, nunca tive um relacionamento sério e duradouro, não sou nada bem resolvida com meus pais e, por uma série de razões, não tenho uma autoestima lá muito sólida.
Existem muitas coisas que eu não tenho e eu poderia passar a vida toda falando delas. O que de fato eu farei. Para a sorte do meu analista. Mas hoje, só dessa vez, só por este post, eu vou falar do que eu tenho.
Então vamos lá. Eu tenho... leitores. Eu tenho leitores que escrevem coisas pertinentes sobre os meus textos. E que perdem alguns preciosos minutos do seu tempo para ler o que eu escrevo. Eu tenho... um programa de tevê. Eu escrevo e atuo num programa baseado no meu blog. E as pessoas assistem.
Eu tenho... um pé enorme, mas isso não é exatamente um ponto positivo, então vamos seguir em frente.
Eu tenho uma boa mãe, que não é perfeita, como qualquer outra pessoa - inclusive eu -, mas com quem eu sei que posso contar. E eu tenho amigos incríveis, pessoas que não tinham a menor obrigação de gostar de mim e que me aturam com todo esse pacote de paranoias e maluquices.
Eu ia falar sobre como eu nunca conheci ninguém de maneira espetacular, sobre como eu sinto que parte da minha vida permanece vazia e só piora conforme eu vou me decepcionando. Mas sobre isso eu já falo sempre. Por ora, vou me dar ao luxo de me sentir profundamente sortuda e grata.
***
Maaass, como a pesquisa já havia sido feita, fiquem vocês com meu top 5 das formas mais incríveis de se conhecer alguém:
5 - Closer - "Eu fui atropelada e foi assim que nos conhecemos"
4 - O fabuloso destino Amélie Poulain - "Nos vimos na cabine fotográfica do metrô, eu fiquei com o álbum de fotos dele, fiz uma série de joguinhos para lhe devolver e foi assim que nos conhecemos"
3 - Brilho eterno de uma mente sem lembranças - "Eu te conheci, te apaguei da minha memória e foi assim que nos conhecemos. De novo."
2 - Antes do Amanhecer - "Estava viajando de trem sozinho na Europa e foi assim que nos conhecemos"
1 - Only You - "Fui à Itália encontrar o homem da minha vida, achei o cara errado e foi assim que nos conhecemos" (foi mal, gente, mas o Robert Downey Jr marcou minha adolescência)
Bonus track: "depoimentos" de casais de velhinhos em Harry e Sally
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Solitude
Escrevo por vocês, não por mim. Ando cansada demais e sem paciência para falar da minha vida. O que é bastante irônico, já que andei trabalhando feito louca numa série autobiográfica.
É que escrever me faz lembrar de algo que vem me incomodando muito nesses últimos meses: o fato de que estamos, inevitavelmente, sozinhos no mundo. Não importa se temos ótimos amigos, mães e pais espetaculares. No fim das contas, somos apenas nós. Tomando decisões e tendo que lidar com as consequências delas, sozinhos.
Não posso negar que estou um pouquinho influenciada pelo fato de uma das minhas amigas mais próximas estar toda namorandinha com um cara novo. Fico feliz por ela, claro. Ela merece alguém legal. Mas é que toda vez que essa minha amiga começa a sair com alguém, eu automaticamente deixo de existir na vida dela. Mentira. Eu continuo existindo para ouvir as novidades e dar algumas opiniões que quase nunca são ouvidas. Tirando isso, sou cortada fora da agenda.
Minha mãe sempre me disse que as amizades são circunstanciais. Minha mãe é apocalíptica e adora ver o pior lado das pessoas, por isso nunca levei esse conselho em consideração. Mas numa coisa ela está certa. Minha rede de amizades flui de acordo com uma variante invariável: quem está solteiro.
Na verdade, também entram nesse grupo os amigos com relacionamento em crise. Esses costumam ter uma agenda bem mais disponível que os amigos emocionalmente felizes. Aliás, eu vou falar uma coisa. Nada mais chato do que um amigo emocionalmente feliz. Quer dizer, tudo bem estar feliz, que bom, que bom mesmo. Mas custa ter um porém? Um entretanto? Tipo "tô saindo com um cara incrível, maravilhoso, extraordinário, pena que ele é manco e caolho". Custa?
Uma pessoa emocionalmente bem resolvida potencializa todos os seus complexos e as suas inseguranças. Só serve pra você se dar conta do quão patética e vazia é a sua própria vida. E como você realmente está sozinho. Apesar dos seus amigos ótimos. E dos seus pais super válidos. E do seu gato de estimação que te faz companhia - exceto se ele estiver desaparecido há dois anos, de maneira misteriosa, e até hoje você tiver sonhos estranhos em que ele volta de um mestrado em Nova Iorque.
Em vista disso tudo, eu só digo uma coisa: acostume-se com a sua cara. Você vai passar muito tempo sozinho com ela.
(Se o desespero bater, procure o cirurgião plástico mais próximo.)
Solitude - Billie Holiday
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Layout novo
Finalmente!
Só mais alguns ajustes e pronto.
Textos novos a partir de amanhã!
Beijos!
Só mais alguns ajustes e pronto.
Textos novos a partir de amanhã!
Beijos!
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
!!!
Blog em construção!
Psicóticos, esperem só mais um pouquinho que eu já vou voltar com um layout novo e várias psicoses pra contar!
Não desistam de mim!
Beijocas,
Natalia.
Psicóticos, esperem só mais um pouquinho que eu já vou voltar com um layout novo e várias psicoses pra contar!
Não desistam de mim!
Beijocas,
Natalia.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Quem vai assistir?
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010
"Frankly, my dear..."
Taí uma boa oportunidade de postar uma das falas mais incríveis da história do cinema.
Amanda disse...
Nossa, isso aconteceu mesmo???
Espero que ele não tenha acesso ao seu blog.
Não é incompetência. Eu nunca passei por essa situação, mas isso realmente acontece, pelas mais variadas razões...
E descartar o cara como incompetente não é legal...
O texto está muito bem escrito, mas o teor foi meio cruel.
Bjs
Amanda disse...
Nossa, isso aconteceu mesmo???
Espero que ele não tenha acesso ao seu blog.
Não é incompetência. Eu nunca passei por essa situação, mas isso realmente acontece, pelas mais variadas razões...
E descartar o cara como incompetente não é legal...
O texto está muito bem escrito, mas o teor foi meio cruel.
Bjs
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
O famoso MB ou O homem que não estava lá
Trabalho em duas redações de maioria masculina. O que significa que eu já ouvi todo tipo de piada sobre sexo, genitália e broxada. Nada mais me choca - ou pelo menos era o que eu achava, até ser contemplada com minha primeira meia bomba.
Pode parecer banal, mas a primeira meia bomba a gente nunca esquece. Eu estava habituada com o estilo "caixinha de surpresa", que você abre e pá: SURPRESA! Salta aquele palhação sorridente, todo empertigado.
Mas não. Pela primeira vez me deparei com algo, como diria Dilma Rousseff, tergiversado. Nada nada assertivo.
"Tudo bem, essas coisas acontecem", vocês podem pensar. Mas eu andei conversando com vários amigos homens e todos eles me garantiram que se o cara não bebeu e a mulher não for uma draga, no hay desculpa - hay que ser duro.
Bom, no meu caso, ninguém tinha bebido (ainda). E, apesar dos meus problemas de autoimagem, eu não me considero exatamente uma draga. Mas o cara tergiversou. Tergiversou feio. Como diriam os ingleses, the famous half bomb.
Se bem que o pior nem é o fato em si. O mais constrangedor é o que se faz a respeito disso. Quer dizer, vai falar o quê? "Tudo bem, essas coisas acontecem"? Clichezão. Até porque "essas coisas não acontecem droga nenhuma, qual é o seu problema, seu incompetente?"
Se a vida fosse uma série de tevê, eu daria dois tapinhas no ombro dele e cortaria para a próxima cena. Mas como a vida real é injusta e lenta, eu aceitei meu destino e liguei a televisão. Zapeei até parar no filme da noite: "O homem que não estava lá".
Nem nunca estará.
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domingo, 10 de outubro de 2010
Rapidinhas da Psicótica
Começa com uma pequena ardência no nariz, que vai se espalhando pelo rosto, contagiando as bochechas em direção aos olhos. Quando isso ocorre, é muito difícil reverter o processo, pois todos os músculos faciais estão envolvidos no esquema.
A tentativa de lutar contra essa conspiração é válida e até digna, mas, a essa altura, sinto-lhe informar que será em vão. Porque seu corpo já está decidido, a despeito do que você havia planejado.
É uma pena, meu bem. Mas você vai chorar.
CRYING IN THE RAIN - versão A-Ha.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010
(Not) Feeling Good
Eu já venho prometendo isso há um certo tempo. Mas sério mesmo. Quero ser uma pessoa melhor.
Não que até hoje eu tenha sido uma pessoa ruim. Quer dizer, eu acho que não. Espero que não. Ai, não me olha assim. Eu só não dei minha quentinha pro mendigo aquele dia porque eu não tinha comido quase nada e era camarão. Poxa, camarão é caro. E eu não tinha nada pra comer em casa. Eu sei, o mendigo também não. Até porque ele não tem casa. Ha.
Mas e aquele outro dia, que o velhinho veio me vender oito balinhas por um real? Hein, hein? Eu comprei, tá! E a única razão de eu ter discutido no meio da rua foi porque ele só me deu sete. Sacanagem, o acordo era oito. Quer ser honesto, vamo ser honesto.
Mas eu queria. Ser uma pessoa melhor.
O problema é que isso implica numa mudança no seu padrão. É como fazer dieta. Você sabe que vai ficar bem melhor com três quilinhos a menos, mas aí o garçom te pergunta se você quer sobremesa e lá se vai sua meta.
Saí do analista decidida a mudar. A partir daquele momento, passaria a me estressar menos e a dosar mais minhas reações. Até descobrir pelo Twitter que uma menina havia criado um blog homônimo ao meu.
Lembro de ver pelo celular uma resposta desaforada da mocinha e subir a minha rua ansiosa para rebater. Cheguei em casa e corri para o computador. Mas no instante seguinte, logo após enviar as mensagens, senti o oposto do que esperava. Não fiquei aliviada, muito pelo contrário. Me veio um sentimento ruim, uma sensação de que eu tinha agido como uma idiota.
Meu analista me disse (meu analista me diz muitas coisas, às vezes eu tenho a impressão de que ele fala mais do que eu) que para uma estratégia dar certo, é preciso pensar na tática. Ele usou alguns exemplos de futebol, mas eu tenho um incrível dom de abstrair qualquer informação relativa a esse assunto.
Brigar com a mocinha pelo Twitter foi um erro tático. Foi um baita retrocesso na minha estratégia de me tornar uma pessoa melhor.
Porque ser uma pessoa melhor requer disciplina. É tipo ir pra academia. Faltou um dia, faltou dois, já era. Vai ter que começar do zero.
Hoje é meu dia zero.
FEELING GOOD - Nina Simone
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O Alienista Caçador de Mutantes
Gostaria de convidá-los para o lançamento do meu primeiro livro "O Alienista Caçador de Mutantes". É um mashup de Machado de Assis com ficção científica e humor. Faz parte da coleção Clássicos Fantásticos, da editora Leya.
Vou adorar vê-los por lá!
Por razões pessoais, meu co-autor não poderá estar presente.
Lançamento em SP
Meus colegas autores, Angélica Lopes (Senhora, a bruxa) e Lucio Manfredi (Dom Casmurro e os discos voadores):
Vou adorar vê-los por lá!
Por razões pessoais, meu co-autor não poderá estar presente.
Lançamento em SP
Meus colegas autores, Angélica Lopes (Senhora, a bruxa) e Lucio Manfredi (Dom Casmurro e os discos voadores):
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Fim das gravações
Acabaram as gravações de "Adorável Psicose". Foram só cinco episódios, mas haja trabalho!
Agora é torcer para que tudo dê certo e esse seja só o começo!
Algumas curiosidades engraçadas:
- Um ator que fez uma pequena participação veio comentar comigo, na maior inocência, "nossa, eu li os roteiros, essa personagem é uma doente, né?"
Eu engoli seco e ele continuou. "É uma louca, doente. Doente!", repetia.
Coitado, ninguém tinha avisado pra ele que grande parte dos roteiros era baseada em histórias reais. Mas imagina a minha cara, sorrisão amarelo, concordando com tudo. "Pois é, essa personagem é uma doente mesmo."
E depois eu ria sozinha, pensando "ha, personagem..."
- Também tive algumas crises de riso com a seguinte cena:
JONAS SE APROXIMA DE NATALIA COM AS MÃOS ESPALMADAS.
NATALIA - Opa, pera aí! Vamos repassar as regras. Sete segundos e só pode pegar em um peito.
JONAS - Ok. Qual é o maior?
NATALIA - Do que você tá falando, meu filho? Meus peitos são perfeitamente simétricos.
JONAS A ENCARA, DESCRENTE.
NATALIA - Tá, o esquerdo. Vai.
ELE PEGA.
A cena em que o rapaz pega no meu peito era basicamente a mais esperada por toda a equipe e, por coincidência, foi a última cena gravada.
Depois das cenas de beijo, pensei que essa seria moleza. Ledo engano. Quando escrevi o roteiro, imaginei o cara simplesmente colocando a mão sobre um dos peitos da, digamos, "personagem". Nunca imaginei o que estaria por vir.
Porque meu colega de cena não se limitou a pegar em um dos peitos. Não, não. Ele começou encaixando a mão por baixo, levantando o material e, por fim, apalpando o conteúdo em toda sua plenitude. Ou seja, o efeito é quase o mesmo de um sutiã de bojo: caprichado na sustentação.
Depois eu volto com mais curiosidades.
Um beijão e saudades de postar aqui!
domingo, 19 de setembro de 2010
17 de outubro às 22:30h
Ainda não me caiu a ficha. Juro.
domingo, 12 de setembro de 2010
Quando você ri...
Acho engraçadíssimas essas convenções do mundo virtual. Quando você está conversando com alguém pela internet, existem vários acordos velados, que vão desde uma carinha sorrindo até o tipo de risada que você dá.
Eu, por exemplo, sou adepta da boa e velha "hahaha". Não curto aquelas variações estranhas, como a "huahuahua" ou a mongolóide caindo da escada "eshuaeshua". A "kkk" me assusta muito, por razões óbvias, a "rsrsrs" se torna absurda quando você tenta visualizar alguém rindo assim e a "hihihi" só pode ser aceita se você estiver conversando com uma gueixa.
Mas mesmo a "hahaha" pode surgir em diferentes versões. Na minha humilde opinião, se você está de papo com o seu peguete e resolve soltar um comentário engraçadinho, o mínimo que ele pode fazer é escrever três "has". Se ele responder "haha" é porque não achou a menor graça e nem se deu ao trabalho de fingir. Responder "hehehe" também não vale. A risada "hehehe" só cabe em momentos safadinhos. Fora isso ela é sinônimo de riso constrangido. Ou seja, "não achei graça e não sei o que dizer".
Aprendam: três "has" é o limite entre o "não achei graça" e o "não achei graça mas vou fazer um esforço". Se o cara realmente riu do que você falou, ele vai escrever quatro ou mais "has". "Hahahaha", "hahahahaha", mas não mais do que isso. Senão ele é maluco e você deve cortar relações o mais rápido possível.
De todo jeito, é bom deixar claro que a regra dos "has" tem suas exceções. Conversando por webcam, já pude constatar casos de esquizofrenia aguda em que o sujeito digitava vários "has" e não esboçava sequer uma intenção riso. Eu olhava para a conversa e lia "hahahahahaha". Olhava pra imagem da câmera e via a personificação do tédio absoluto.
Ha.
WHEN YOU SMILE, Louis Prima.
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terça-feira, 7 de setembro de 2010
Rapidinhas da Psicótica
Então. Dei meu primeiro beijo cênico ontem.
Cheguei à conclusão de que beijar em cena é tipo comer frango. Pode até ser bom, mas no fim das contas é só frango.
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quarta-feira, 1 de setembro de 2010
O Segredo da Victoria
Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que mulher odeia mulher.
Não me venham dizer que "aahh, não é bem assim", "eu amo as minhas amigas", "morra, sua antifeminista dos infernos". Tirando a sua avó e a sua mãe - e, em alguns casos, incluindo as duas -, parta do pressuposto de que todas as mulheres te odeiam. Porque se elas não te odeiam agora, elas já te odiaram ou certamente irão te odiar um dia.
Isso ocorre devido a um treinamento que dura gerações, e que foi incutido no nosso subconsciente. Fomos ensinadas - senão por nossas mães, pelo cinema, pela literatura e pela televisão - que as mulheres são invejosas, que elas vão roubar nossos homens, que elas são falsas, duas caras, vão falar mal de todas nós pelas costas. As mulheres são condicionadas, desde muito cedo, a desconfiar das outras mulheres, a se separar em grupinhos na escola, a excluir e incluir de acordo com seus interesses e necessidades.
Mulher é um ser do mal.
É por isso que eu suspeito muito desses movimentos feministas. Aposto que no dia em que as mulheres resolveram fazer aquele protesto e saíram por aí queimando sutiãs, do outro lado da cidade, uma tal de Victoria fazia um desfile secreto de lingerie. E daí surgiu a marca.
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sábado, 28 de agosto de 2010
Da série: psicose reflexiva
Não sei onde foram parar aquelas minhas fantasias adolescentes sobre o amor. Acho que elas foram se despedaçando e indo embora junto com cada uma das pessoas que - perdoem-me pelo clichê piegas - partiram meu coração.
E o mais ridículo é que mesmo sabendo que elas não passavam de fantasias adolescentes, no fundo eu ainda espero que alguém apareça e me diga "ei, olha o que eu achei na rua, suas fantasias adolescentes; quer de volta?"
INXS, Beautiful Girl.
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sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Like a virgin
Sou uma retardada afetiva. Dei meu primeiro beijo aos quinze anos, até hoje nunca namorei sério e, se continuar nesse ritmo, estarei casada em 2050. Não que seja esse meu objetivo na vida. Me contento em achar alguém com quem não precise ser psicótica o tempo todo - só de vez em quando, pra não perder a prática.
Mas apesar do meu considerável atraso, estou longe de ser aquela menininha estranha e B.V. (expressão que se usava na minha época - sim, eu tenho uma época), de cabelos desordenados e aparelho nos dentes. Hoje em dia minhas inseguranças são um pouco mais complexas. Ok, mentira. Minhas inseguranças são patéticas e dignas de pena, mas se tem uma coisa que eu faço sem medo é beijar. Quer dizer, já beijei com uma porção de sentimentos equivocados, incluindo nojo e piedade. Insegurança jamais.
Pelo menos era o que eu achava, até me dar conta de que teria que gravar uma cena de beijo pra série "Adorável Psicose". Claro que eu sabia da existência dessa cena, fui eu que escrevi. Mas a ficha só caiu outro dia, durante uma leitura com o ator beijador.
Como se beija em cena?, pensei, enquanto passava o texto. Devo ter ficado vermelha várias vezes e olha que o cara nem sequer estava perto de mim. Pela primeira vez em muito tempo, me senti insegura como aquela garota de quinze anos que nunca tinha dado um beijo na vida.
E fiz exatamente o que uma adolescente faria. Saí perguntando aos amigos mais experientes: "Como se beija em cena? As pessoas beijam beijam? Quais são os limites?"
Só que ninguém me levou a sério e até agora não ouvi uma resposta que fosse minimamente esclarecedora. Na pior das hipóteses, vou fazer o que eu fiz quando dei meu primeiro beijo real: confessar minha inexperiência para o cara e torcer pelo melhor.
Por via das dúvidas, levarei um Trident na bolsa.
sábado, 21 de agosto de 2010
Apareça!
Você manda um torpedo pro cara com quem saiu algumas vezes, só pra dar um oi, deixar claro que apesar do seu eventual sumiço você está ciente da existência dele. Mas aí o sujeito responde o seu "oi" simpático e atencioso com um "Espero que esteja tudo bem. Apareça."
Nada contra ele esperar que esteja tudo bem. Aliás, ainda bem! Já pensou se ele mandasse um "espero que esteja tudo mal"?
Mas qual é o desse "apareça"?
Sim, eu ando sumida, trabalhando feito uma escrava sadomasoquista corna, isolada do convívio social há dias. Mas, poxa. "Apareça"? O que isso quer dizer? Será que "apareça" é equivalente ao "a gente se vê"? Tipo, "se acontecer da gente se encontrar por aí, beleza, senãão... fique bem, fique em paz, saúde pra você, tá, querida."
Será então que, quando ele disse pra mim "apareça", o que ele realmente quis dizer foi (des)apareça?
Ou será que, muito provavelmente, ele não quis dizer nada específico? Que ele só foi lá e respondeu meu "oi" simpático e atencioso sem dar a menor atenção às palavras que digitava, como os homens costumam fazer, ignorando o fato de que, segundos depois, uma psicótica igual a mim daria início a uma série de especulações sobre o verdadeiro significado das coisas absolutamente insignificantes.
Nota mental: (cresça e) apareça, Natalia.
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sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Feliz sexta-feira 13!
Agora já posso contar!
Senhoras e senhores, leitores psicóticos, após muitas reviravoltas, eis o que todos (eu, minha mãe e minha tia-avó) esperavam:
"Adorável Psicose", a série, estreia em outubro no Multishow!
Tô tão feliz que mal caibo em mim. E olha que eu tenho 1,78m, era pra ter espaço...
Está sendo uma correria louca pra deixar tudo pronto, por isso não estarei tão presente nas próximas semanas.
Mas tô na área! E mais psicótica do que nunca!
Beijocas animadas!
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
TOP 5 - Adorável Psicose
Adoráveis psicóticos,
Vocês poderiam me dizer quais são seus cinco posts preferidos? Aqueles que vocês gostariam que virassem episódios?
Aguardo suas respostas!
Estamos trabalhando para melhor esfaqueá-los. Digo, servi-los.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Da série: matemática psicótica
Eu estava explicando ao meu terapeuta que minha paciência para "caras novos" está diminuindo em progressão geométrica.
Considerando a paciência como um número inteiro e não-negativo (apesar dos meus surtos de pessimismo), acho que a sequência seria mais ou menos a seguinte:
Sendo assim, com o passar dos anos, o que deveria ser inteiro e positivo vai se aproximando cada vez mais do zero, do nulo, do porra nenhuma.
Segundo os matemáticos, toda P.G. tem uma razão, uma constante. E é justamente por isso que eu não perco mais meu tempo. Quando saio com um cara novo, vou direto nas constantes.
"Fala logo, qual é a sua? Você acabou de sair de um relacionamento? Não quer se envolver agora? Tem uma ex em outro país? Os três ao mesmo tempo? Você é gay? É casado? É imaginário?"
"Nenhuma das anteriores", o cara responde.
Então eu o encaro desconfiada e concluo que em breve serei apresentada a um novo tipo de razão, ainda não catalogado.
Em termos técnicos, vai tomar no π.
BEYONCÉ, em performance psicótica.
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terça-feira, 27 de julho de 2010
PROMO Adorável Psicose
Agradecimentos: Juliana Bach, Guga Chermont, Gustavo Nasr, Leo Ávila, Paula Scamparini, Mel Akerman, Ana Carolina Bento Ribeiro, Tony Muricy, Marinês Vieira, Chiquinho, Lourdes, Vanessa, Rodrigo Brazão, Rodrigo Andrade, Thiago Sacramento e Inácio Freitas. Além dos atores e atrizes, Juliana Guimarães, Leandro Goulart, André Locatelli, Vinicius Manne, Ricardo Conti, Beto Vandesteen, Marciah Luna, Daniel Jaimovich, Alessandra Jasbinschek, Kelly Coli, Raquel Aitken e dos amigos Pedro Carboni, Carol Martins, Diogo Cunha, Flora Fernandes, Debinha Pessanha, Lyana Peck e Flavio Izhaki.
domingo, 25 de julho de 2010
Rapidinhas da Psicótica
"Então o senhor vira na próxima direita e sobe até morrer", disse ao taxista, esquecendo que ele era um velhinho. "Quer dizer, o senhor sobe até o fim", merda, "o fim da rua, o fim da rua!", repetia, nervosa.
A minha sorte é que ele era meio surdo.
"Agora o senhor faz a volta que a rua não tem saída", avisei.
"É, minha filha", ele dizia, reflexivo, "o fim da rua chega pra todos."
Então eu me fingi de surda e fui embora, sem esperar o troco.
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sábado, 24 de julho de 2010
Tudo o que você precisa saber sobre Moby Dick
Não sei o que acontece comigo, mas quando sou colocada (ou me sinto) em uma situação de teste - como primeiros encontros e entrevistas de emprego -, tendo a desenvolver uma espécie de amnésia seletiva que desencadeia uma terrível falta de habilidade de me expressar.
Uma vez estava em uma entrevista de emprego importante e me perguntaram se eu gostava de ler. Eu disse que sim, claro, óbvio, como não? A mulher sentada à minha fente não pareceu se impressionar com a minha resposta, e sorriu como quem pensa "até parece que você diria outra coisa." Depois perguntou qual fora o último livro que eu tinha lido.
Engoli no seco.
Não é que eu não leia livros. Eu leio livros. Vários livros.
Mas naquele momento, era como se uma câmera se aproximasse rapidamente até o meu rosto e eu pensasse "ai meu deus, eu nunca li nenhum livro na minha vida."
E comecei a me desesperar, dando um google no meu cérebro, percorrendo todos os cantos obscuros da memória até chegar a um título, o único que brilhava em neon no meio da minha massa cinzenta.
"Moby Dick", respondi, enfim.
O que seria ótimo, não fosse pelo fato de eu nunca ter lido Moby Dick.
"Ah, é maravilhoso", ela respondeu, agora sim abrindo aquele sorrisão, impressionada com a magnificência do meu intelecto.
"É um clássico, né", afirmei, segura daquela verdade inquestionável.
"É uma história linda", ela continuou.
Ok, vamos lá. Google mental: Moby Dick. Eu sei que Moby Dick é o nome de uma baleia. Uma baleia branca, o que torna "Free Willy" praticamente uma resposta das minorias oprimidas. Mas, enfim, isso não vem ao caso agora. Eu lembro de um pirata, um marujo, um lobo do mar; e ele tenta caçar Moby Dick. Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida. É isso!
"Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida", eu disse, emocionada.
E tudo acabaria aí, não fosse pela minha petulância.
"Todos nós temos as nossas baleias brancas pra caçar, não é mesmo?", insisti, testemunhando o sorriso da mulher se transformar em algo nebuloso. Foi só então que me dei conta de que ela era bem gorda. E branca.
"Quer dizer, é uma metáfora", tentei, em vão, consertar, ao que ela riscava algo em sua agenda. "Você riscou meu nome?"
"Não", ela respondeu, expressiva como uma parede. Uma grande parede. Branca.
Mas poderia ter sido pior. Eu poderia ter dito qualquer um do Paulo Coelho.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Da série: coisas que eu não gostaria de receber de um peguete
1 - Biscoitos Break-Up!
Sério mesmo. Se eu estivesse saindo com um cara há algum tempo e ele me aparecesse com esse biscoito, eu ficaria muito, mas muito paranoica. Como assim Break-Up? De todos os biscoitos disponíveis nas prateleiras do supermercado, por que ele escolheria justo esse? Qualquer pessoa normal pegaria um Bono ou um Trakinas. Eu, por exemplo, iria direto no Chocolícia.
Agora, se o sujeito, por livre e espontânea vontade, vai lá e me compra um Break-Up... é porque aí tem coisa.
E no momento em que ele virasse o pacote pra mim e perguntasse "quer?", aí sim eu teria certeza de que aquilo era um toque. Então eu responderia "quero", bem puta, e encheria a boca com uns três ou quatro ou cinco biscoitos Break-Up. Depois diria, ainda de boca cheia, que "pra sua informação eu já queria bem antes de você oferecer."
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Rapidinhas da Psicótica
Outro dia um amigo veio me dizer, todo cheio de certeza, que as mulheres não gostam de sexo. Ensaiei uma breve indignação, e depois pensei por alguns instantes.
"Não é que as mulheres não gostem de sexo", expliquei. "É que, assim como vocês, a gente não faz nada sem pensar na recompensa."
"Como assim?", ele perguntou, enquanto eu abria um enorme sorriso psicótico.
"Ah, você sabe. Os homens pagam de namoradinho pra conseguir sexo. E as mulheres fazem sexo pros homens pagarem de namoradinho. E assim a gente vai levando."
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Why don't you do right?
Uma das minhas músicas preferidas, em três interpretações bem diferentes:
JESSICA RABBIT (AMY IRVING)
BENNY GOODMAN E PEGGY LEE
GRAMOPHONEDZIE
JESSICA RABBIT (AMY IRVING)
BENNY GOODMAN E PEGGY LEE
GRAMOPHONEDZIE
sexta-feira, 16 de julho de 2010
O problema
É que eu sempre acho que sou a única que continua pensando sobre o assunto, enquanto os outros estão tomando champanhe e rindo para o alto, como magnatas na Riviera Francesa.
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quinta-feira, 15 de julho de 2010
Facadinhas da Psicótica
I.
Entre a minha ami(g)dalite e o volume de trabalho que aumentou vertiginosamente nessas últimas semanas, quem sofreu foi o blog. Eu também poderia reclamar que a minha vida afetiva acabou sendo prejudicada, mas eu aprendi na escola que zero dividido por qualquer coisa dá zero.
II.
Assistindo outro dia à entrega de prêmios do Torpedão Campeão, eu não pude deixar de pensar no quão inconveniente seria receber um milhão de reais em barras de ouro. Tipo... sério? Legal, mas e o que eu faço com esta merda agora? Carrego até a minha casa? E quando eu for fazer compras? A moça do caixa vai me perguntar "dinheiro ou cartão, senhora?", aí eu vou lá e jogo uma barra de ouro em cima do balcão? Ou será que eu dou uma raspada na barra e guardo uns trocados em pó para as pequenas despesas?
Além dos prêmios em dinheiro, parece que também rolam uns carros e umas TVs de LCD. Fico me perguntando se esses também serão entregues em barras de ouro.
III.
Ando meio sem paciência pra gente chata. E quando isso acontece, eu tendo a ficar excessivamente sarcástica. Foi por isso que, no auge de uma discussão sobre Criança Esperança e solidariedade, eu soltei, sem pensar duas vezes: "Dane-se o próximo. Se ele fosse realmente próximo, eu saberia o nome dele"- declaração que só não causou mais polêmica e revolta do que a vez em que eu disse para outro grupo de chatos o que eu pensava sobre a Rene Russo. Quer dizer, Renato.
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segunda-feira, 12 de julho de 2010
Honey, I'm home
Andei sumida, é verdade. Fiquei uns quatro dias de cama - e não do jeito bom.
Mas tô de volta! E aproveito para postar o link de uma entrevista que eu dei pro blog do Qype Brasil. Para ler, clique aqui.
Posts novos a qualquer momento, prometo.
Beijos a todos! (Agora sem germes!)
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
Regra de três
Strike um
Não importa o que as pessoas digam para você se sentir melhor; primeiros encontros são massacrantes.
Eu frequento esse evento há alguns anos e posso garantir que, apesar do tempo e da experiência, certas coisas nunca mudam. Sair com alguém pela primeira vez é como participar da Porta dos Desesperados; é tenso, aflitivo, e do nada pode sair uma aberração atrás você.
Pra mim, o processo de sofrimento se inicia quando o encontro é marcado e vai aumentando conforme o momento se aproxima. É tudo penoso. Nunca tenho o que vestir, meu cabelo não colabora, eu tô gorda, a bolsa não fica legal com o sapato, que merda, por que caralhos eu marquei isso? (Respira, respira.)
E aí eu chego no lugar me sentindo nojenta, toda nervosa e suada, em um conflito interno que me faz cogitar sair correndo e voltar pra casa - mas isso é para os fracos, então eu me recomponho e tento não pensar que posso estar com pizzas no sovaco.
Desse ponto em diante, é o festival da vergonha alheia. Duas pessoas estranhas que estão ali reunidas com o intuito de se pegar - mas como não podem admitir isso de cara, elas iniciam um questionário patético que inclui clássicos como "o que você faz?" ou "onde você estudou?"
Pode levar até duas horas até que as coisas finalmente se acalmem e comecem a ficar um pouco mais espontâneas. Quando isso acontece, há grandes chances do primeiro encontro engatar e ser bem sucedido. Quando não, tudo o que você precisa fazer é fingir prestar atenção no que a outra pessoa está dizendo, sorrir eventualmente e usar a primeira chance que tiver para simular uma dor de cabeça, um trabalho cedo no dia seguinte ou o fato de que você acabou de descobrir sua nova orientação sexual: cavalos.
Strike dois
Vamos supor que o primeiro encontro tenha sido ótimo. A conversa fluiu, vocês se divertiram, e o beijo foi excelente. Então vocês marcam o segundo e agora sim tudo vai ser melhor, não?
Claro que não.
Quando o primeiro encontro dá certo, as expectativas aumentam - ao contrário de quando você não espera nada e qualquer coisa é lucro. Agora vocês contam com algo, pelo menos, no mesmo nível - e é por isso que o segundo encontro é ainda mais massacrante que o primeiro.
O segundo encontro é a confirmação de uma hipótese, é a hora da verdade, especialmente se os dois acabaram bêbados da outra vez.
No segundo encontro os silêncios são bem piores do que no primeiro. Porque se antes você se indagava sobre o que o outro poderia estar pensando, agora você sabe. Os dois estão pensando exatamente a mesma coisa, como assim, por que hoje está tão ruim?
É triste, triste. Já tive segundos encontros lamentáveis, de frustração mútua e irreversível. Mas não sejamos pessimistas. Às vezes você pode se surpreender, e o que era para ser catastrófico acaba saindo melhor que a encomenda.
Strike três: dentro!
Ok. Passou o primeiro, passou o segundo, agora está tudo tranquilo, certo?
Errado.
O terceiro encontro é clássico, especialmente se você já liberou os tira-gostos do cardápio. Porque se tem uma coisa que eu aprendi nesses encontros é que existe uma regra bem clara no tocante ao... bem, ao tocante mesmo. É uma regra incutida no subconsciente masculino e, segundo ela, não se pode, de forma alguma, retroceder nas investidas. Em outras palavras, não se pode permitir certos avanços no segundo encontro e depois vetá-los no terceiro. É preciso seguir em frente, sempre adiante. Ou, no mínimo, manter o acesso às regiões já conquistadas.
É por isso que o terceiro encontro também é tenso. Porque ele marca o início das atividades rumo à efetiva devassa territorial - uma operação que, se não for bem realizada, pode arruinar todo o sucesso da campanha.
*
A regra de três é infalível. Se você sobreviver a essa maratona, pode ter certeza de que o pior já passou. A partir daí, é só relaxar e esperar a hora de quebrar a cara - então a gente volta a conversar.
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sábado, 3 de julho de 2010
Old days
Às vezes eu sinto falta de quando era um pouco menos esperta e bem mais apaixonada.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Cinema sozinha no sábado à tarde - parte final
Nos posts anteriores de Adorável Psicose:
Depois de uma longa deliberação comigo mesma, decidi que não tinha problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde.
Foi quando um homem surgiu do nada, entrou na minha frente e pediu para a balconista um Chokito. O meu Chokito.
"Natalia!", alguém me chamou. Era o cara com quem eu costumava sair há alguns meses. [...] "Essa é Carla, minha namorada."
"Eu vim com o meu namorado", eu disse, e engoli no seco. [...] "É aquele ali", e apontei para o homem que terminava de comer Chokito. Meu Chokito. [...] Fui direta e disse que se ele seguisse exatamente o meu plano, eu lhe compraria dez caixas de Chokito. "Vinte", ele corrigiu. "E você me deixa pegar nos seus peitos."
***
"Guten Tag!", disse Carla, tentando ser simpática com o Johannes, meu suposto namorado austríaco. Johannes, por sua vez, permaneceu calado. "Wie geht's?" ela insistiu.
Com muito medo do que aconteceria dali em diante, eu virei lentamente o rosto para o falso austríaco à espera de alguma resposta — ao que ele, muito sério, disse apenas: "nein, nein."
Sem entender a reação de Johannes, Carla insistiu: "Angenehm!"
"Nein, nein", ele tornou a responder, bastante seguro.
"Ele não deve estar entendendo por causa do seu sotaque", justifiquei, após um certo silêncio.
"Impossível", rebateu Carla, "minha família é alemã, meu sotaque é perfeito."
"É mesmo?", questionei, cruzando os braços.
"Sim, meu nome é Carla Braun."
"É mesmo?", perguntei de novo, duvidando dos meus próprios ouvidos. "Braun? Carla Braun?", repeti, dessa vez olhando para o namorado dela. "Você parou de sair comigo e começou a namorar uma nazista?"
"Mein Führer?", interrompeu Johannes.
"Natalia!", o outro me repreendeu. "Isso que você falou é extremamente preconceituoso!"
"Desculpe, eu não quis ofender", disse, tentando me redimir. "Qual é o nome da sua avó?"
"Gretel", respondeu Carla.
"Ah, é? E o da sua bisavó?"
"Chega, Natalia", ele reclamou novamente.
"Não que isso seja relevante, mas eu sei o que a sua namorada pede quando vai na depilação."
Então eles me devolveram a pipoca e o refrigerante, pondo fim àquela conversa agradável.
"Você precisa parar de julgar as pessoas", ele disse.
"Como assim, que ridículo, eu não julgo as pessoas", disse, desviando o olhar para uma breve retrospectiva.
Breve retrospectiva:
"Que porra é essa? Homem meu não usa bolsinha!"
"Ele é feio, né, mãe?"
"Téo e Andy? Como assim Téo e Andy? É uma festinha gay?"
"Ele é um daqueles caras que acham as coisas mó astral, não é?"
“Preconceituosa, eu? De jeito nenhum. Não tenho nada contra os gordos, eu só torço pelos mais fracos. No caso, a comida.”
Fim da retrospectiva.
"Ok, talvez eu julgue um pouco", admiti, enquanto os três me encaravam. "Tá, tá bom, eu julgo bastante", concluí. "Foi por isso que você me trocou pela nazista?"
Ele riu e segurou a mão dela, como fazia comigo quando outra garota conversava com ele na minha frente. Me senti esfaqueada mais uma vez, ouvindo a trilha de Psicose. Eu era a outra garota e a Carla era a pessoa com quem ele estava. Fiquei sem ar por alguns instantes e não lembro muito bem o que disse quando eles se despediram.
Mas ao vê-la de costas, indo embora, não pude deixar de perguntar ao Johannes: "ela é mais bonita que eu?"
"Por quê? Eu posso pegar nos peitos dela?"
"Não", respondi, levemente enojada, mas também ofendida por ter meus peitos rejeitados.
"Então tá", ele disse, já com as mãos espalmadas, vindo em minha direção.
"Ei, ei, pera aí! Vamos combinar as regras. Cinco segundos e só pode pegar em um peito."
"Tá, o maior, então."
"Do que você tá falando, meu filho? Meus peitos são perfeitamente simétricos", rebati, ao que ele me encarou descrente. "Tá, o esquerdo."
Mas ele nem se deu bem. O esquerdo é o menor. Otário.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Cinema sozinha no sábado à tarde - parte 2
Nos posts anteriores de Adorável Psicose:
"Está procurando presente pro dia dos namorados?"
"Sim. Estou."
"Qual o nome dele?"
"Z-Zingo."
"Você não tem namorado, né?"
*
"Você está aqui sozinha?", perguntou [o homem].
"Eu tenho amigos. E talvez até mesmo um namorado. Você não pode provar o contrário."
"Tanto faz, eu só quero o meu Chokito."
"Meu Chokito."
"Deixa ela ficar com o Chokito", pediu a balconista. "Ela veio sozinha ao cinema."
***
Após o incidente no balcão, decidi que o melhor era evitar qualquer tipo de interação humana e entrar de uma vez na sala de cinema. E segui para a fila, com as duas mãos ocupadas, levando pipoca e refrigerante, ambos gigantes.
Não existe problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde, mentalizava, quando lembrei que tinha deixado o ingresso na bolsa e tive o instinto natural de entregar a pipoca para alguém segurar, exceto pelo fato de que não havia ninguém comigo, o que me deixou deprimida.
"Natalia!", alguém me chamou. Era o cara com quem eu costumava sair há alguns meses. E de quem eu gostava bastante, e que também dizia gostar muito de mim, mas. As razões do mas são sempre variações em cima do mesmo tema: não posso me envolver no momento, não estou pronto, acabei de sair de um relacionamento, sou um alien do futuro, essas coisas.
Mas para ser bem sincera, minha primeira reação ao reencontrá-lo foi entregar o saco de pipoca e procurar meu ingresso dentro da bolsa. Foi quando uma moça razoavelmente bonita chegou e parou ao lado dele, de modo que eu desejei me jogar dentro daquela bolsa e nunca mais sair.
"Essa é Carla, minha namorada."
As palavras saíram como facas e eu me senti a própria Janet Leigh, atacada no chuveiro, de surpresa. Sem saber o que responder, fiz o que me pareceu mais prudente.
"Oi, Carla. Dá pra segurar esse copo rapidinho?", e entreguei o refrigerante. "Perdi meu ingresso."
A ideia foi estúpida, porque agora sim é que eu estava presa a eles e àquela situação horrivelmente desconfortável, que só poderia ser comparada a um prisioneiro na Idade Média, acorrentado naquelas rodas de tortura. Um braço preso à pipoca, o outro ao refrigerante; e eu ali, pronta para rodar.
"Então você está namorando?", perguntei, forjando um sorriso medonho. "Que bom... pra você", concluí, dando um soquinho no ombro da Carla. "Há quanto tempo?"
"Pouco tempo", ele respondeu, nervoso.
"Cinco meses", disse Carla, sem nenhuma culpa.
"Cinco meses? Você está namorando há cinco meses?", repeti. "É engraçado, porque a gente saía há cinco meses. Mas, enfim, eu espero que dê tudo certo pra vocês, de verdade."
NOT, pensei.
"Você tá sozinha?", ele perguntou, querendo mudar de assunto.
"Claro que não. Eu tô saindo com várias pessoas."
"Eu quis dizer aqui, no cinema. Você veio sozinha?"
"Que tipo de pessoa vai ao cinema sozinha? Eu vim com o meu namorado", e engoli no seco.
"Então você tá namorando?", ele quis saber.
"Ué, por que a surpresa? Você acha que é o único que consegue?"
"E cadê esse sujeito sortudo?", ele perguntou, enquanto eu rastreava o local, na esperança de encontrar alguém conhecido que se prestasse a tal papel. Mas na falta dessa pessoa, fiz o que me pareceu mais prudente.
"É aquele ali", e apontei para o homem que terminava de comer Chokito. Meu Chokito.
"Qual é o nome dele?"
"Zingo."
"Oi?"
"Jonas", corrigi. "Aqui, amor!", gritei, ao que o suposto Jonas me respondeu levantando o dedo do meio.
Silêncio.
"Fazer o quê?", eu disse. "Ele sabe do que eu gosto."
"Ele parece ótimo", a Carla comentou.
"Ele é. Eu nem vou apresentar porque ele não fala português. O Johannes é austríaco."
"Eu falo um pouco de alemão", rebateu Carla.
"Claro que você fala", respondi, sem muito entusiasmo.
Então eu pedi um instante e fui falar com o Johannes. Fui direta e disse que se ele seguisse exatamente o meu plano, eu lhe compraria dez caixas de Chokito.
"Vinte", ele corrigiu. "E você me deixa pegar nos seus peitos."
"Quê?"
"Uma vez só."
Revirei os olhos e aceitei a proposta.
(continua...)
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Cinema sozinha no sábado à tarde - parte 1
Depois de uma longa deliberação comigo mesma, decidi que não tinha problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde. Se fosse no domingo, tudo bem, seria deprimente. Mas ir ao cinema sozinha no sábado à tarde ainda é uma prática socialmente aceita. Ninguém iria me julgar. É claro que eu tinha amigos e talvez até mesmo um namorado. Acontece que naquela tarde, especificamente, eu tinha optado por ir ao cinema sozinha. Coisa de impulso mesmo, que só as pessoas legais e despojadas fazem. Não que eu seja uma delas, mas ninguém poderia provar o contrário.
Então vesti uma roupa que considerei ser digna e fui até o cinema mais perto de você - no caso, mais perto de mim, porque eu não preciso de você; não existe problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde.
Pelo menos era o que eu repetia para mim mesma na fila da pipoca, quando a balconista perguntou se eu queria mais alguma coisa e eu resolvi que sim, que eu queria um Chokito, o último que restava no balcão. Não sei bem por que eu tomei tal decisão, eu nem gosto de Chokito tanto assim, e todas as vezes que eu comprei um, ele tinha gosto de chocolate velho. Mas, por alguma razão, eu tive uma certa pena daquele único exemplar abandonado, sozinho, avulso.
Foi quando um homem surgiu do nada, entrou na minha frente e pediu para a balconista um Chokito. O meu Chokito.
"Desculpa", eu disse, tentando ser educada, "mas tem uma fila aqui."
"Eu sei", ele respondeu, "eu só tinha ido ali rapidinho, uma senhora estava guardando meu lugar."
"Que senhora? Não tem nenhuma senhora aqui."
"Pois é, ela estava na sua frente, eu vi quando ela saiu e vim correndo."
"Devia ter corrido mais", rebati, desviando o olhar.
"Olha só, eu estava na fila, a moça do balcão viu, não viu?", o homem perguntou. E, de fato, a moça parecia concordar com o que ele dizia, embora não quisesse deixar clara a sua opinião, permanecendo calada.
"Vamos resolver isso rápido, eu só quero o Chokito", ele argumentou.
"Eu também!", respondi, desmerecendo o argumento.
"Não quer não, você nem tinha pedido."
"Eu estava a ponto de pedir."
"A ponto de pedir não é pedir. Para pedir você precisa falar em voz alta e a outra pessoa tem que escutar."
"Tá, obrigada, Dicionário. E a definição de furar fila, você sabe qual é?"
"Eu já disse que estava na fila, eu só tinha ido ali um instante", ele contestou.
"Bom, ir ali não é estar na fila, né?", respondi, deleitando-me. Então ele ficou em silêncio, analisando a situação.
"Você está aqui sozinha?", perguntou.
"Como assim? O que isso tem a ver?"
"Então você está aqui sozinha", constatou, de um jeito arrogante que me deixou desestabilizada.
"Eu tenho amigos. E talvez até mesmo um namorado. Você não pode provar o contrário."
"Tanto faz, eu só quero o meu Chokito."
"Meu Chokito."
"Deixa ela ficar com o Chokito", pediu a balconista. "Ela veio sozinha ao cinema."
"Quê? Não!", respondi, ultrajada. "Eu optei por vir sozinha ao cinema. Eu sou legal e despojada."
"Claro que você é", ela disse, enquanto me passava o Chokito.
"Não! Eu não vou aceitar esse Chokito da piedade!"
"Ótimo, então me dá", o homem interrompeu, tirando o chocolate da minha mão.
"Ei!", reclamei.
"Você disse que não ia aceitar."
"É óbvio que eu ia aceitar, eu só estava dizendo aquilo pra manter minha dignidade."
Então ele me olhou com um sorriso petulante, abriu o Chokito e deu uma mordida, bem na minha frente.
"Babacadizquê!", eu disse, bem rápido.
"Quê?"
"Ha! Babaca!", e saí, com minha dignidade intacta. Ou quase isso.
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