quinta-feira, 18 de março de 2010
Tipo a Marlene
"Essa é a amiga que eu te falei", dizia Juliana, "ela é super fã do seu blog."
"Demais!", completou a amiga. "Eu me identifico muito com o que você escreve."
"Ah, você também anda saindo com caras ineptos?", perguntei.
"Na verdade... não. Eu sou lésbica."
"Bom pra você, faz muito bem!", eu disse. "Eu devia ser lésbica também. Você guarda meu lugar enquanto eu penso?"
"Natalia, isso é jeito de falar?", reclamou Juliana, constrangida.
"Tudo bem", disse a amiga. "Uma mulher bonita, inteligente e divertida como você será super bem-vinda ao clube", ela disse, olhando pra mim.
"Ouviu isso, Juliana?", alfinetei, enquanto ela fingia que não estava prestando atenção. "Bom, mas então isso quer dizer que...", e tentei continuar a frase apenas rodopiando a mão e levantando as sobrancelhas, como quem diz ah, você sabe do que eu estou falando.
Mas pela cara das duas, suspeitei que meus gestos não estavam fazendo o menor sentido.
"Você me pegaria?", perguntei, toda envaidecida.
"Natalia!", repreendeu-me novamente Juliana.
"Quê?", questionei, sem entender o motivo do alarde. "Só fiz uma pergunta, sem pressão", tentei me defender. "Mas, então, você me pegaria?"
"Nah", ela respondeu, na lata.
"Nah?", perguntei, certificando-me de que tinha ouvido aquilo.
"Nah", ela repetiu.
"Desculpa, foi impressão minha ou você acabou de dizer que me achava bonita, inteligente e divertida?"
"Eu acho. Qualquer garota seria sortuda em te pegar."
"Qualquer garota, ahn?"
"Umhum."
"Mas não você."
"Não eu."
Cruzei os braços, intrigada. Não que eu tenha problemas em lidar com a rejeição. Não é isso. Eu só não admito ser rejeitada. Por ninguém. Em nenhuma circunstância.
"Posso perguntar por quê?"
Então ela suspirou, levantou as mãos e deu um estalo com a língua, como quem se prepara para dizer uma coisa que o interlocutor não vai gostar de ouvir.
"Você não faz meu tipo", ela disse, por fim.
Soltei o ar pela boca, como quem faz questão de expressar desdém.
"Ah, eu não faço seu tipo?", perguntei, em tom de deboche. "Então você está dizendo que uma mulher bonita, inteligente e divertida - suas palavras, não minhas - não faz seu tipo?", contra-ataquei. "Qual é o seu tipo então? Feias, burras e chatas?"
Silêncio.
"Vocês têm visto Big Brother?", Juliana tentou mudar de assunto.
"É a minha bunda, né? Eu sei que é."
"Não é a sua bunda, Natalia."
"Bunda reta, parece uma tábua. Mas eu tô malhando! Minha professora me garantiu que em seis meses minha bunda será outra. Então pense nessa bunda como um investimento. Uma poupança, literalmente."
"Chega, Natalia", interveio Juliana. "Qual é o seu problema? Você nem é lésbica!"
"Não agora. Mas em 2005 eu peguei umas menininhas por aí. Ou homens de cabelo de grande. Sei lá. Eu bebia muito naquela época."
Juliana revirou os olhos e cobriu o rosto, como quem, por alguma razão, está morrendo de vergonha.
"Que que é?", protestei. "Se eu for virar lésbica um dia, eu preciso saber o que me espera do outro lado. Eu achei que as mulheres fossem querer alguma coisa comigo, mas pelo visto é trocar seis por meia dúzia", concluí. "Agora, que mal lhe pergunte, quem diabos faz seu tipo?"
"Eu gosto de mulheres mais...", dizia, girando as duas mãos e contraindo os dedos.
"Com atrose?", arrisquei. "Você tem fetiche por velhas?"
"Mais poderosas", confessou. "Você é uma gracinha, mas eu gosto de mulherões."
"Mulherões tipo Marlene Mattos?"
"Tipo Marlene Dietrich."
"Entendi."
E aceitei. Não sou dessas pessoas que sentem necessidade de chamar a atenção de todo mundo, a qualquer custo. Por isso mesmo que, na semana seguinte, eu não apareci na festa da amiga lésbica da Juliana vestindo um terno preto e fumando um cigarro de maneira sensual.
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marlene dietrich
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hahahahhahhahaha, vc se superou, foi como se eu estivesse ali, de verdade, assistindo a tudo, muito bom, adorooo!!!
ResponderExcluirvc é otimo, queria te conhecer e saber se vc é mesmo assim... eu até achava q era um mulherão!
ResponderExcluirFantástica história! Fantástica personalidade! Só espero que não me considere um intruso no pedaço. Aqui eu encontro muito boa leitura e muito bom humor
ResponderExcluirPeraê Natália! Como assim, vc não é mulherão? Então, o que eu faço com os meus 1,60? rsrs
ResponderExcluirisso cabe em um episodio :D
ResponderExcluirDéjà vu? rs
ResponderExcluirAdorei o Marlene Mattos vs Marlene Dietrich. Essas fanchas tem mta classe mesmo! :D
Gjuis, tipo Marlene Dietrich?
ResponderExcluirPrefiro Nathalia Klein, rs!
Beijos e bom finzinho de semana!
HAHA adorei. Mas é, se um dia eu virasse lésbica, o "meu tipo" seria uma Marlene Dietrich também.
ResponderExcluirSensacional!
ResponderExcluiraiai Natalia... você sabe que lésbica ou não eu te pegava né?
beijos gostosa!!!
Risos...
ResponderExcluirMuiiiito bom mesmo (milhões de x).
'vc se superou' [2].
Meus parabéns pelos belos textos aqui.
=*
acho qye voce deveria dar uma olhada nesses episodios da psycho girlfriend!
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=JMoGj9QtZts&feature=related
hahaha
Com artrose???? uahuahuahuhuahua. Sensacional.
ResponderExcluirResumidamente falando, ela não é a 'caminhoneira' da história, ela gosta de ser a mulher.
ResponderExcluirConvenhamos, mulher é um entidade tão complexa que nem as mulheres que gostam de mulheres se compreendem inteiramente.
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