
Nos posts anteriores de Adorável Psicose:
Depois de uma longa deliberação comigo mesma, decidi que não tinha problema nenhum em ir ao cinema sozinha no sábado à tarde.
Foi quando um homem surgiu do nada, entrou na minha frente e pediu para a balconista um Chokito. O meu Chokito.
"Natalia!", alguém me chamou. Era o cara com quem eu costumava sair há alguns meses. [...] "Essa é Carla, minha namorada."
"Eu vim com o meu namorado", eu disse, e engoli no seco. [...] "É aquele ali", e apontei para o homem que terminava de comer Chokito. Meu Chokito. [...] Fui direta e disse que se ele seguisse exatamente o meu plano, eu lhe compraria dez caixas de Chokito. "Vinte", ele corrigiu. "E você me deixa pegar nos seus peitos."
***
"Guten Tag!", disse Carla, tentando ser simpática com o Johannes, meu suposto namorado austríaco. Johannes, por sua vez, permaneceu calado. "Wie geht's?" ela insistiu.
Com muito medo do que aconteceria dali em diante, eu virei lentamente o rosto para o falso austríaco à espera de alguma resposta — ao que ele, muito sério, disse apenas: "nein, nein."
Sem entender a reação de Johannes, Carla insistiu: "Angenehm!"
"Nein, nein", ele tornou a responder, bastante seguro.
"Ele não deve estar entendendo por causa do seu sotaque", justifiquei, após um certo silêncio.
"Impossível", rebateu Carla, "minha família é alemã, meu sotaque é perfeito."
"É mesmo?", questionei, cruzando os braços.
"Sim, meu nome é Carla Braun."
"É mesmo?", perguntei de novo, duvidando dos meus próprios ouvidos. "Braun? Carla Braun?", repeti, dessa vez olhando para o namorado dela. "Você parou de sair comigo e começou a namorar uma nazista?"
"Mein Führer?", interrompeu Johannes.
"Natalia!", o outro me repreendeu. "Isso que você falou é extremamente preconceituoso!"
"Desculpe, eu não quis ofender", disse, tentando me redimir. "Qual é o nome da sua avó?"
"Gretel", respondeu Carla.
"Ah, é? E o da sua bisavó?"
"Chega, Natalia", ele reclamou novamente.
"Não que isso seja relevante, mas eu sei o que a sua namorada pede quando vai na depilação."
Então eles me devolveram a pipoca e o refrigerante, pondo fim àquela conversa agradável.
"Você precisa parar de julgar as pessoas", ele disse.
"Como assim, que ridículo, eu não julgo as pessoas", disse, desviando o olhar para uma breve retrospectiva.
Breve retrospectiva:
"Que porra é essa? Homem meu não usa bolsinha!"
"Ele é feio, né, mãe?"
"Téo e Andy? Como assim Téo e Andy? É uma festinha gay?"
"Ele é um daqueles caras que acham as coisas mó astral, não é?"
“Preconceituosa, eu? De jeito nenhum. Não tenho nada contra os gordos, eu só torço pelos mais fracos. No caso, a comida.”
Fim da retrospectiva.
"Ok, talvez eu julgue um pouco", admiti, enquanto os três me encaravam. "Tá, tá bom, eu julgo bastante", concluí. "Foi por isso que você me trocou pela nazista?"
Ele riu e segurou a mão dela, como fazia comigo quando outra garota conversava com ele na minha frente. Me senti esfaqueada mais uma vez, ouvindo a trilha de Psicose. Eu era a outra garota e a Carla era a pessoa com quem ele estava. Fiquei sem ar por alguns instantes e não lembro muito bem o que disse quando eles se despediram.
Mas ao vê-la de costas, indo embora, não pude deixar de perguntar ao Johannes: "ela é mais bonita que eu?"
"Por quê? Eu posso pegar nos peitos dela?"
"Não", respondi, levemente enojada, mas também ofendida por ter meus peitos rejeitados.
"Então tá", ele disse, já com as mãos espalmadas, vindo em minha direção.
"Ei, ei, pera aí! Vamos combinar as regras. Cinco segundos e só pode pegar em um peito."
"Tá, o maior, então."
"Do que você tá falando, meu filho? Meus peitos são perfeitamente simétricos", rebati, ao que ele me encarou descrente. "Tá, o esquerdo."
Mas ele nem se deu bem. O esquerdo é o menor. Otário.