quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Te pego lá fora
As redes sociais trouxeram consigo dois grandes benefícios - e não, eu não estou falando daquelas chatices do Farmville e do Mafia Wars. Eu me refiro aos poderes quase divinos que essas redes nos emprestam. Lá nós somos onipresentes e, principalmente, oniscientes. O que é ao mesmo tempo uma dádiva e um estorvo.
O Facebook, por exemplo, tão inventivo e sagaz, devia ter algum tipo de aplicativo que nos avisasse precisamente o momento de parar nossas pesquisas nos perfis alheios. Ainda mais se o perfil alheio em questão for o de alguém em que você está interessado.
Porque até um certo ponto a pesquisa é saudável. É justa, é digna. Mas a fronteira entre a dignidade e o excesso de informação é meio nebulosa. Quando você se dá conta, já está a quilômetros de distância da tal fronteira, mais precisamente na página da melhor amiga da garota que você suspeita que o tal "alguém" esteja pegando.
Aliás, ênfase na palavra "pegando". Mais uma daquelas informações que era melhor não saber. Que o Facebook Team devia ter te impedido de descobrir, bloqueado seu acesso, te distraído com um anúncio irritante do Farmville, o que fosse.
Quando alguém que te interessa usa o termo "pegar", não tem como a carapuça não te servir imediatamente, quase que numa surra de carapuça. Você vai ser pega por ele, muito em breve. E vocês vão aprontar uma tremenda pegação.
Mas vá lá. Eu confesso que de vez em quando também me escapa um "peguei fulano", entre amigos, num clima de descontração alcoólica. Só que estando do outro lado e analisando friamente, não posso negar que me senti um pouquinho desconfortável.
"Pegar" é um termo tão juvenil, tão casual. Você pega uma fruta na geladeira, um suco. No meu caso, eu não pego nada, porque a minha geladeira está sempre vazia ou com restos de comida chinesa. O que, convenhamos, não é lá muito diferente da minha vida afetiva.
Quando você diz que "quer pegar fulano" ou que "está pegando sicrano", a impressão que dá é que o objeto da sua pegação é tão importante quanto o rolinho primavera que sobrou do almoço. Pegar é sinônimo de absolutamente nada relevante. Assim como a comida na geladeira, você pega, você come, você joga o resto fora.
Eu sinto falta da época em as pessoas usavam o termo "ficar". Porque, bem ou mal, você não está só "pegando" o indivíduo, você está "ficando"com ele. É uma evolução de comida de geladeira para bichinho de estimação.
Por isso, a partir de hoje, eu não vou "pegar" mais ninguém. Ok, mentira. De vez em quando acontece. Mas enquanto as redes sociais me permitirem ser onisciente, eu detestaria saber que alguém me considera "pegável".
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É, são soa dias dos relacionamentos descartáveis que se instalaram de vez... e ficam as pessoas sendo usadas e jogadas fora...como o tal do rolinho primavera do almoço!
ResponderExcluirRuim mesmo é quando o termo "pegar" se transforma em adjetivo, "pegável".
ResponderExcluirPior ainda é quando você descobre que a pessoa que você tá a fim não te considera nem ao menos "pegável".
Pois é.
http://oblogdareclamacao.blogspot.com/
Fred, mudei o finalzinho em sua homenagem.
ResponderExcluirBeijos!
Pegar nem é tão ruim, ruim é ser pega. rs
ResponderExcluirEu ainda uso "ficando", por sinal é o que digo estar fazendo há 6 meses, porque meu "ficante" não quer assumir o título "namoro". Títulos e títulos. Como a sociedade os julga importantes, hein?
O interessante é quando surgiu a febre da "ficada" os mais velhos achavam absurdo, do tradicional "namoro" a "ficada" a brevidade e a troca de parceiros aumentou muito. Pois agora sim acontece uma revolução quanto a fugacidade dos relacionamentos. Com a queda do termo "ficada", o aparecimento e popularização do termo "pegada" (não só do termo, na verdade, mas de sua prática), as relações que já eram curtas tornaram-se momentâneas. São poucas as pessoas que ficam "pegando" uma mesma pessoa, geralmente se "pega" e "tchau", ou se "pega" várias vezes.
É, a vida passa cada vez mais rápido, e muita gente tem vivido menos intensamente.
Bom, já é Natal... Boas festas! ;)
Beijos, beijos.
Ana
Ser pegável é um termo horrível, mas saber que você é pegável, é beeeem agradável! rs!
ResponderExcluirBom Natal!
Beijos!
Muito bom, o blog e programa. Abs e feliz natal.
ResponderExcluirParabéns Natália!! Hoje aprendemos uma lição muito importante: "Não se deve usar as pessoas, para que elas não usem você".
ResponderExcluirAmeei o post Natália,assim como todos os outros!
Feliz Natal e tudo de melhor pra você e toda sua Família!! beijo!
FELIZ NATAL, NATÁLIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
ResponderExcluirBeijos, Fabrício Ferreira.
Obrigado pela homenagem srta. Klein!
ResponderExcluir;)
Um Feliz Natal para todos os pegantes, pegáveis e peguetes. Afinal, sem eles, que sentido teria essa vida, né?
http://oblogdareclamacao.blogspot.com/
Olá Natalia! Queria apenas dizer que adoro o seu blog. Decidi que só ia comentar depois de ler todo e então... aqui estou! Parabéns e um abraço.
ResponderExcluirquanto as redes sociais , concordo com você o mundo em redes é um caminho sem volta e muito bom, é um mundo ainda democrático no melhor sentido da palavra, aqui a gente posta troca informações discute, não temos senhores, chefes, donos, mas esse mundo em rede ainda está em conflito, muita gente grande quer a soberania desse mundo, e isso seria um retrocesso, nos tiraria o melhor que temos aqui que é podermos ser senhores de nós mesmos sem que precisemos de escravos.
ResponderExcluirestamos discutindo sobre isso no linhas de fuga.
quanto ao termo pegar, também não gosto, a gente pega objetos não sujeitos, usar isso é transformar a pessoa e tudo que ela traz com ela em um mero objeto.
Boa Tarde, Natália (desculpe se o seu nome não tem acento, mas é o vício de acentuar paroxítona terminada em ditongo). Estou aqui não para falar do blog, mas do seriado que foi exibido no multishow (talvez eu esteja no lugar errado, né? Mas foi o único espaço que achei para me comunicar com vc). Pois bem, feita a devida introdução (no bom sentido)...- caracas que chato esse texto cheio de parênteses para dar explicações-, mas voltando, eu assisti meio que ser querer o seu programa um dia e achei espetacularmente espetacular. Foi o melhor programa humorístico que já vi. Ou seria "A vida como ela é" com uma veia cômica? Enfim, o fato é que vc é uma gênia, pq conseguiu transpor para a tela uma forma de comunicação absurdamente divertida com situações de vida real (ou ao menos de vida mental...hahaha - assim que vc gosta da risada né?). Como tenho 38 anos, acompanho programas humorísticos desde os ótimos Chico e Jô, passando pelos não menos ótimos TV Pirata e Sai de Baixo, o péssimo casseta e planeta, o horripilante pânico na tv e outras tantas m...que existem hj em dia. Vc conseguiu salvar o humor na televisão brasileira. Mesmo as outras séries de pretensas comédias no próprio multishow são fraquíssimas. Vou ficando por aqui antes que isso vire um livro. A propósito, é a primeira vez que poste em blog, pq nunca fui mto de ter paciência para ler ou interagir com tais, mas em se tratando da psicótica vale cada segundo aqui navegando. Por último, um comentário nada a ver, meu filme preferido é clube da luta...comente se vc gostou. Excelente 2011 e espero que tenhamos novos episódios. PS - Obriguei minha esposa assistir a todos episódios e ela tbm amou. Abço, Frank
ResponderExcluirPara você ter idéia, na minha cidade a variação de pegável é tão gigante que já até surgiu o "comível"...
ResponderExcluirAmei o blog e a série, meu nome também é Natália e quando assisti a série super me identifiquei e meus amigos que assistiram falam que foi baseada hem mim huauah, bom saber que não sou só eu assim kkkk.
ResponderExcluirbjss
continuando sobre o pegável, assim, na década de setenta rolou a quebra dos paradigmas, a liberdade sexual e religiosa, hoje acho que vivemos o tempo da naturalidade disso, aquilo que em setenta era choque hoje começa a ser naturalmente aceito e debatido.
ResponderExcluircreio que em um futuro próximo isso trará algo bem positivo, diferente dos escatológicos acho que esse tipo de atitude não elimina relações duradouras, ao contrário, cria novos caminhos para tais. diferente de um mundo onde as pessoas casam para responder a sociedade, sim hoje nós casamos mais pelos outros que por nós mesmos ainda; no futuro próximo os homens casarão unicamente pelo amor que sentem e vontade que sentem de estar junto, não tendo mais a pressão social para tal.
"Ficar" já é doído...
ResponderExcluirImagina então "pegar"...
Caramba!!!
Sou antiga, viu... kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Para mim é "namoro", nem que seja de uma noite apenas... Mas é NAMORO!
Beijos,
Cinthya
Adorei o blog!!! E esse último post me fez só intensificar o que eu já pensava dos relacionamentos atuais, são descartáveis.Raras são as pessoas que buscam compartilhar e dividir, só querem as coisas palpáveis, carnais e superficiais. O sentimento é que deixou de ser pegável, esse ninguém o quer.
ResponderExcluirParabéns!
Olá, adorei o post. Dei boas risadas. É passa ou repassa. Neste caso: pega e repassa, rs. É desconfortável mesmo, rs.
ResponderExcluirEstou tentando descobrir quem esta ficando com você.
ResponderExcluirOlá, psicóticos!
ResponderExcluirEu sempre leio seus comentários, mas queria muito que o blogspot me permitisse responder individualmente. Na falta desse recurso, deixo um beijão pra todo mundo.
Mas respondendo algumas observações:
Vanessa,
Vamos almejar mais da vida, né? Ser pegável é o nivel mais baixo da cadeia afetiva. Acho que só perde pra comível.
Frank,
Adorei seu depoimento! Ainda não assisti O Clube da Luta, acredita? Um absurdo!
Linhas de fuga,
Bons pontos, mas acho que a falta de consistência nos relacionamentos atuais já não tem só a ver com a revolução sexual. Conhece o livro "Amor Líquido", do Bauman?
Beijocas e uma ótima virada a todos. Vou tentar postar coisa nova antes de 2011.
Natalia está certa. Esses termos(pegar,peguei,pegavel) querem dizer exatamente o que dizem.Pegar, só isso. Sem sentimentos, compromissos ou titulos. Acho triste que a situcao tenha chegado onde chegou.
ResponderExcluircomo sempre, o texto é maravilhoso.
Venho defender o bolinho primavera no dia seguinte. Todo mundo sabe que comida chinesa no dia seguinte é ainda melhor do que no dia que se compra. Eu mesmo sempre compro a mais, contando com a sobra no dia seguinte. Mais tempo pra absorver os "nutrientes" (aka gordura).
ResponderExcluir"pegável" é dose, mas encare assim: melhor que nem ser... e outra: às vezes você "pega" uma "coisa qqr" e descarta, pq de fato não interessa "ficar" com ela. mas pode ser que essa "coisa" seja ressignificada e por ela você se APEGUE. ;)
ResponderExcluirAdoro demais seu blog, por isso mesmo que o sigo e este post é maravilhoso, me identifico com ele, principalmente no que se refere a pesquisa de "perfis alheios", triste, mas real.
ResponderExcluirNa sua época era ficar e na minha era paquerar, hoje pegar, daqui a pouco como será? Não sabemos. Espero que seja algo mais sutil, ou pelo menos mais romântico.
Eu já fiz isso, manja? Mas geralmente isso acontece porque a gente pira é nos trogloditas!!!! Porquê, hein??? Adoro seus textos... a minha cara!!! Beijo!
ResponderExcluirkkkkkkkkkk MUUUITO EU,
ResponderExcluirainda mais a parte do " ... Mas a fronteira entre a dignidade e o excesso de informação é meio nebulosa. Quando você se dá conta, já está a quilômetros de distância da tal fronteira, mais precisamente na página da melhor amiga da garota que você suspeita que o tal "alguém" esteja pegando...
SEMPRE faço isso, e é mto ruiiim !
Adorei essa reflexão sobre "pegar". Eu nunca havia pensado em como ou quando ocorreu essa mudança de termos. Me lembro que na minha era escola/orkut era ficar.
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