No último dia de 2010, eu saí pra almoçar com uma amiga de infância que eu já não via há algum tempo. Engraçado porque quando nós éramos crianças, 2011 soava como um futuro muito distante, com naves e telefones que faziam ligações de vídeo. No caso, só faltam as naves.
Mas o fato é que a minha amiga vai casar. A menina com quem eu brincava de Barbie e via "A Pequena Sereia" repetidas vezes. Ela vai por um vestido branco e vai casar. Ela mesma, não uma boneca loura de peitos sem mamilos ou uma sereia ruiva com sutiã de conchas. Está acontecendo de verdade, estamos ficando velhas e casando. Quer dizer, ela está. Eu continuo na mesma, só não brinco mais de Barbie.
Já a minha amiga, vai ter uma bonequinha dela mesma no bolo - se é que as pessoas realmente fazem isso, eu não entendo nada de casamento. Nunca me apeteceu. Só que naquele almoço, não sei o que houve, acho que fui possuída. Minha amiga começou a falar de uns vestidos que eram a minha cara e quando dei por mim já estávamos falando de um casamento pequeno para não mais de cem pessoas.
"Amanda, eu nem tenho namorado", eu disse, pondo fim àquela loucura.
"Mas você tá saindo com alguém?"
"Sim, mas daí até o casamento pequeno para não mais de cem pessoas..."
"Sabe o que você faz? Sai com vários ao mesmo tempo!"
Fiquei encarando minha amiga de infância por alguns segundos, ainda perplexa com aquele comentário. Especialmente vindo dela, uma menina tão doce e de fala tranquila.
"É, de fato tem um outro cara...", lembrei.
"Então! Sai com ele também! Sai com todo mundo!"
"Aí também não, eu tenho princípios."
"Todo mundo é modo de dizer. Mas começa saindo com esses dois."
"Que que é isso? Desespero?"
"Não, pelo contrário. Você fica bem mais leve quando não se fixa num cara só", ela argumentou. O que é bastante irônico para alguém que vai se casar em seis meses.
Então fiz uma breve retrospectiva mental de todos os caras com quem já saí. E a conclusão foi óbvia. Sair com um cara só nunca me trouxe benefícios, muito pelo contrário. De repente tá na hora de testar o outro lado da moeda. Afinal, os homens fazem isso o tempo todo.
"O tempo todo!", confirmou minha amiga.
Mas a verdade é que eu não sei se eu seria capaz. Não pela parte moral da coisa, mas pela logística mesmo. Eu não sou como a maioria das mulheres que consegue falar no telefone, cozinhar e escrever uma tese de mestrado ao mesmo tempo. Quando eu tô no telefone e alguém fica do meu lado fazendo sinais, eu fico extremamente confusa. Que dirá administrar dois homens!
"Você aprende", ela me encorajou.
Só que a questão é bem mais complexa do que parece. Porque eu trabalho de uma maneira organizada, ao menos na vida afetiva. Tem toda aquela coisa dos primeiros encontros, a calcinha certa, os tempos entre cada depilação. Aí se você adiciona um homem extra na equação, fica tudo bagunçado. E eu me sinto falando no telefone com alguém do meu lado fazendo sinais.
Por exemplo, se eu resolvo dar pra um e pro outro ainda não. Como é isso? Não consigo equalizar. Ou eu tô no modo "dando" ou não. E os dias de folga masculina, em que eu posso esquecer de depilar as axilas? E se eu tiver uma observação engraçadinha e sagaz? Eu conto pra quem? Pros dois? Eu vou ser uma daquelas pessoas que repetem observações engraçadinhas e sagazes?
"Não, eu não consigo, eu não consigo!", repeti.
E comecei a falar do meu trabalho.