Não ando com muita vontade de escrever aqui. Não por falta de ideias, nem muito menos por falta de inspiração - acreditem, às vezes eu me sinto vivendo numa matrix da minha própria série. Tipo na véspera de Natal, quando competi com uma mulher por táxis em uma rua deserta. Ou quando acidentalmente flertei com um funcionário gatinho do Consulado Americano.
Mesmo com temas frequentes implorando para serem transformados em textos, eu não me sinto mais motivada. Talvez porque a motivação em si para a existência deste blog tenha sido posta em xeque.
Há quatro anos, uma série de urgências me levou a criar este espaço. Eu estava há tempos sem escrever e havia acabado de sair de um trabalho mecânico de produção para trabalhar como redatora de humor. Mais do que nunca, eu precisava de um lugar seguro, onde pudesse cultivar minha individualidade como escritora. Acima disso, eu precisava descobrir que tipo de escritora eu queria ser.
E, ao longo desses quatro anos, eu abri minhas entranhas pra vocês. Confessei meus medos, descrevi as humilhações mais terríveis, compartilhei meus sonhos, minhas decepções, minhas esperanças. E sempre considerei essa minha parte na troca.
Mas, ao que parece, na Era da interatividade, não é suficiente que eu faça uso da minha vocação para dialogar com o público. Não, não. Eu também preciso mostrar que sou legal, sou bacana, sou da galera. Para provar que eu me importo com os leitores, eu preciso atender às demandas de cada um deles, preciso ser compreensiva com suas carências, preciso me mostrar agradecida. Na verdade, pelo que acompanho em alguns comentários, agradecer e interagir com os internautas é mais do que respeito, é minha obrigação. Afinal, sem eles, eu não seria nada.
E aí a coisa toda começa a degringolar. Porque eu sinto muito, mas não devo absolutamente nada a ninguém. Eu ofereço minha alma, minhas vísceras, o que eu tenho de melhor e de pior. E recebo de volta reforço positivo, experiências de outras pessoas, mensagens afetuosas, outras nem tanto. A troca é essa e, de uma forma ou de outra, todos saem ganhando. Exceto os caras de quem eu falo mal, esses não devem gostar muito de se verem retratados. Mas aí também ninguém mandou partir o coração de uma escritora.
De todo modo, gostaria de deixar uma coisa bem clara. Este blog não é uma obrigação. Nunca foi, nem nunca deverá ser. Ele é o meu espaço, meu cantinho seguro de criação, e quem quiser embarcar na viagem será muitíssimo bem-vindo. Mas se eu me sentir coagida aqui dentro, como ando me sentindo ultimamente, não vou hesitar em parar.
Aos que compreendem o que eu disse, um beijo enorme. Aos que permanecerem insatisfeitos, não se exaltem. A porta da rua é a serventia da casa.