Eu nunca sonhei em ter grandes fortunas. Exceto uma vez ou
outra quando me ocorreu que “sim, agora seria um ótimo momento para ter um
helicóptero”. Gosto de comer bem e ter
algumas coisas legais, mas não uso roupas de marca, não costumo comprar artigos
de luxo, não tenho carro e não frequento lugares extravagantes. Eu comecei a
ganhar dinheiro relativamente cedo e tenho guardado a maior parte desde então.
Sou uma boa moça de classe média.
Tendo dito isso, confesso que estou planejando um super
presente de aniversário para mim mesma. Sempre vislumbrei o dia em que poderia
fazer viagens maneiras, ficar em hotéis lindos e comer em lugares incríveis e
agora, prestes a completar 30 anos, finalmente consegui manejar a equação tempo
X dinheiro.
Então imagine minha alegria quando contei à minha mãe sobre
meus planos e em vez de um “vai nessa, aproveita, você merece”, ouvi um sonoro
e retumbante: “hãn.” Aquele “hãn” que não diz nada, mas diz tudo ao mesmo tempo.
Insinua que você não sabe o que está fazendo e, se sabe, está fazendo errado.
Uma pessoa próxima me contou que os filhos dela não dão um
passo sem consultá-la. Que o filho mais velho, de quase 35 anos, não compra um
azulejo sem pedir a opinião dela. Perguntei o que ela pensava disso e ela me
respondeu que achava ótimo que eles a procurassem, assim tomariam sempre as
melhores decisões.
Talvez ela esteja certa. É provável que muitas vezes nossas
mães saibam qual é a melhor decisão a se tomar. Mas, talvez, por um excesso
de proteção ou porque elas veem seus filhos como uma extensão delas mesmas, às
vezes elas esqueçam que eles são pessoas diferentes, com personalidade
própria, gostos, vontades e objetivos que podem ser distintos dos delas. E os filhos, ávidos por aprovação, também acabam se esquecendo disso.
Não vou julgar quem faz questão de sempre consultar os pais. Eu mesma já fui uma dessas. Aliás, eu costumava pedir conselhos a todo mundo, o tempo todo. Mas é bom entender onde acaba a
prudência e onde começa a pura insegurança. Se eu não for capaz de fazer
escolhas sozinha e pagar o preço delas, nunca vou deixar de ser uma pós-adolescente.
Porque não basta ter independência
financeira, é preciso também conquistar a autonomia psicológica.
Há alguns anos, minha tia me contou uma história
melodramática sobre uma parente de uns 40 anos que nunca cortara o “cordão
umbilical”. Lembro bem dela contar isso olhando diretamente nos meus olhos, como
quem diz “entendeu, né, Natalia”. Na verdade, ela chegou a dizer “entendeu, né,
Natalia”. E repetiu “entendeu, né, Natalia” algumas vezes.
Acabou que eu fui a única de todos os primos que saiu de
casa sem nenhuma ajuda dos pais. Não devo nada disso à sentença que minha tia me deu anos atrás, mas
sempre tive vontade de dizer “agora pega
meu cordão umbilical e enfia na bunda”. E quem sabe encerrar com um sucinto,
elegante e materno: “hãn”.